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Suinocultura pede socorro

Criadores sofrem com queda nos preços pagos pelos animais vivos no estado e no país, que estão até 25% abaixo do valor de produção. Prejuízo chega a R$ 0,50 por quilo vendido aos frigoríficos

Com remuneração entre 18% e 25% inferior aos custos de produção, as 1.470 granjas de suínos de Minas Gerais operam hoje no vermelho. Desde o início do ano, o quilo do animal vivo pago ao produtor caiu mais de 35% ao passar de R$ 3,40 para os atuais R$ 2,20, segundo dados da Associação dos Suinocultores de Minas Gerais (Asemg). Se não bastasse a forte desvalorização que o produto enfrenta no mercado interno, a escalada dos preços dos insumos ajuda a compor o cenário delicado vivido pela suinocultura nacional.

Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq) da Universidade de São Paulo (USP), o preço do farelo de soja – tomando como base o mercado de Campinas – subiu 59% do início do ano para cá. Na última semana, a tonelada estava cotada em R$ 985,13. A queda de 21% no custo do milho, outro composto da ração dos animais, não foi suficiente para sanar o problema. Atualmente, os produtores contabilizam custos que chegam a variar entre R$ 2,70 e R$ 2,90, de acordo com a região de Minas Gerais, representando perda de pelo menos R$ 50 por animal vivo comercializado. “Não deve haver produtor, a não ser aqueles com grande escala, que esteja empatando hoje, apenas perdendo”, garante o presidente da Asemg, João Bosco Martins de Abreu.

José Arnaldo Cardoso Penna, vice-presidente da Asemg e dono da Granja Barreirinho, em Sete Lagoas, na Região Central do estado, explica que em ponto de abate o suíno chega a um peso bruto de 100 quilos. “Sendo vendido a R$ 220 para os frigoríficos, o produtor tem que arcar com pelo menos R$ 50, o equivalente a R$ 0,50 por quilo, de prejuízo”, contabiliza. A soja é sem dúvida o principal vilão com recordes consecutivos de preço. “Hoje, o farelo de soja representa entre 35% e 38% do custo total de produção, percentual que sempre ficou na casa dos 20%”, calcula o suinocultor do Sul de Minas e Triângulo Mineiro Roberto da Silveira Coelho.

A superoferta do produto no país justifica o atual momento vivido pela suinocultura. Em junho do ano passado, a Rússia suspendeu temporariamente o comércio de carne suína com o Brasil, fechando as portas de um importante mercado consumidor. O Ministério da Agricultura aguarda para o próximo mês a visita de uma comitiva russa para avaliar tecnicamente os laudos de equivalência sanitária, já encaminhados para tramitação. “A partir do momento em que a Rússia tomou essa medida, conseguimos abrir outros mercados, substituindo parcialmente, mas não totalmente esse comprador”, observa Roberto Coelho.

Sem escoamento, o produto acabou sendo direcionado para os açougues e supermercados brasileiros. “Somado a isso, os altos custos de produção fizeram com que muitos produtores, para evitar perdas maiores, ofertassem os animais no mercado. Para completar, a demanda não tem mostrado sinais de avanço”, explica a pesquisadora da Cepea/Esalq Camila Ortelan.

ALTERNATIVAS Com uma pequena indústria, capaz de processar até 30% da produção, José Arnaldo reconhece que somente assim consegue ter algum fôlego para manter os negócios. “Transformamos o animal abatido na indústria em cortes comerciais que vão direto para o consumidor”, observa. Outra opção é queimar o estoque de grãos como vem fazendo Roberto da Silveira, que atualmente tem auto-ssuficiência de 70% da demanda de milho. “Estou usando o meu estoque, sem condições de repor”, conta. A substituição, ainda que pequena, do farelo de soja está entre as saídas para amenizar as perdas. “Estamos usando farinha de carne e levedura de cana, além de algumas enzimas, para melhorar a eficiência da proteína da carne. São recursos aos quais já temos recorrido, mas é impossível retirar a soja da dieta”, observa Roberto Coelho.

Apesar das dificuldades, João Bosco afirma que ainda não há casos de produtores que estejam abandonando a atividade. “Aqueles que dependem do processo de integração com a indústria, como no caso do Paraná, estão sofrendo mais. Aqui em Minas há uma produção mais completa que chega até os suínos acabados”, observa. A expectativa de melhoria do cenário recai sobre os próximos seis meses. “Provavelmente emduas semanas será iniciado um processo de recuperação”, prevê o presidente da Asemg.

Enquanto isso…

…situação de emergência

Braço do Norte, no Sul de Santa Catarina, decretou situação de emergência para que os produtores do município possam ter acesso a algumas políticas públicas para amenizar a crise do setor, que amarga R$ 1 bilhão em perdas nos últimos 18 meses, segundo a Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS). A avaliação é com base no abate mensal de 1 milhão de cabeças, com perda de R$ 41 a R$ 58 por suíno de 100 quilos. O motivo é que o preço-base do quilo do porco está em R$ 1,90 na região, para um custo de produção de R$ 2,57, segundo cálculos da Embrapa. O decreto de emergência permite que os produtores acessem leilões de milho da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a preço de R$ 21 a saca de 60 quilos, contra R$ 26 no mercado normal.

Por: Paula Takahashi
Fonte: Jornal Estado de Minas

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