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Startups do agronegócio vão da piscicultura à pecuária leiteira

Aplicativo para médicos veterinários e software para gestão da criação de peixes são apostas em modelos de negócios ainda pouco explorados

Aliar a vida no campo ao uso de computadores e smartphones pode parecer um grande desafio ainda hoje, mas não é isso que o sucesso de duas novas empresas do agro demonstram. Tanto a VetSmart quanto a Agroinova desenvolveram produtos que funcionam offline quando o trabalhador rural sai para trabalhar. O objetivo é facilitar a organização das atividades do dia a dia.

A VetSmart tem como público-alvo estudantes e profissionais da veterinária. Recentemente, a empresa lançou um aplicativo de consulta a medicamentos, protocolos de emergência e conversores de unidades voltado para animais de grande porte. Já a Agroinova nasceu focada na gestão da piscicultura, mas desde a sua fundação abriu o leque e passou a contar também com um software especializado no controle da produção leiteira e um site para a venda de insumos relacionados a esses dois mercados.

Dos cães e gatos aos bovinos e equinos

Bruno Ducatti, publicitário e sócio-fundador da VetSmart, conta que iniciou o negócio focado em clínicas de pequenos animais, mas a demanda fez a equipe investir também no segmento de animais de grande porte. “Queríamos saber o quanto a penetração do mobile era difusa no interior. Para isso, entrevistamos mais ou menos 50 veterinários de todos os Estados do Brasil. O resultado demonstrou que a maioria deles considerava que estava em alta a melhoria do sinal no país, o que aumentava seu interesse em adquirir os smartphones.”

Hoje a marca conta com três produtos: um aplicativo voltado para cuidados médicos de cães e gatos; outro específico para bovinos e equinos e um site em que veterinários em geral podem se cadastrar e trocar experiências, além de publicar artigos. Os dois aplicativos estão disponíveis para iOS e Android e não apresentam nenhum custo para o usuário. Outro detalhe importante é que a consulta a ambos é viável mesmo sem sinal de internet.

Os aplicativos contam com várias ferramentas. Entre elas, um guia de medicamentos, que podem ser buscados por categoria ou palavra-chave. “Vamos supor que o veterinário queira checar detalhes sobre uma vacina específica, então ele pode selecionar a categoria ‘vacina’ ou escrever direto Almería o nome do medicamento ou de alguma substância que ele contenha.” Com isso, aparecem dados de indicação, contra-indicação, dosagem etc. Uma calculadora que converte unidades muito específicas também está à disposição, assim como tabelas de referência sobre características fisiológicas dos animais e protocolos de emergência.

O site e os aplicativos não têm relação direta. “Então, os veterinários podem baixar o VetSmart no celular e não necessariamente ter uma conta no site”, afirma Ducatti. A página na internet tem outro objetivo. Sua proposta é divulgar o perfil desses profissionais, criar uma interação entre eles com o compartilhamento de informações técnicas e permitir a publicação de relatos de casos e artigos científicos. “Todo material enviado é submetido à curadoria de especialistas da nossa equipe para só então ser publicado.” Como no caso dos aplicativos, o uso da plataforma é gratuito.

Sobre o conteúdo disponibilizado pela empresa, Ducatti afirma que tudo é checado junto à indústria farmacêutica e de nutrição por profissionais capacitados. “Em relação ao uso, reforçamos que nosso público-alvo são médicos veterinários e estudantes da profissão.” De acordo com ele, o preenchimento de um cadastro detalhado visa inibir que pessoas alheias à área tenham acesso às informações e as usem imprudentemente.

A VetSmart foi fundada no final de 2012 e lançou há pouco mais de um mês o aplicativo voltado para animais de grande porte. Segundo Ducatti, o app está em uso por aproximadamente oito mil usuários. No futuro, ele não descarta a hipótese de criar mecanismos de interação com o dono do animal e outras funcionalidades, como a compra de produtos. “Queremos continuar expandindo os serviços nessa área e atingir outros mercados. Para nós, conversar com os veterinários é fundamental para identificar novas demandas, que ainda não sabemos exatamente quais são.”

Cadeia produtiva sob controle

Adriano Romero e Dalton Sales se formaram em zootecnia pela USP de Pirassununga, mas seguiram por caminhos diferentes no mercado de trabalho. Um reencontro permitiu ao expert em tecnologia e ao especialista em aquicultura desenvolverem um novo projeto juntos. Na época, os dois criaram o embrião do que seria a Agroinova. Hoje, a empresa tem três produtos principais: os softwares InovaPeixe, InovaLeite e uma plataforma de comércio eletrônico.

Piscicultura

“Na piscicultura, 70% do custo está relacionado à utilização de ração”, diz Romero. Daí grande parte dos dados compilados pelo InovaPeixe partir desse indicador. “Quando o produtor adquire a ferramenta, criamos junto com ele um programa alimentar. Decidimos em que quantidade esse peixe vai ser alimentado a cada semana de vida, com qual ração e vamos medindo a retirada por morte.” Na sequência, o software gera um planejamento que deve ser seguido desde o momento em que o peixe é colocado na água.

“O peixe é muito suscetível a mudanças de temperatura. Se a temperatura da água diminui, ele come menos; se aumenta, ele come mais.” O software faz todos esses ajustes. Outro exemplo prático pode ser esse: “vamos supor que o peixe tinha que ser alimentado hoje, mas aí choveu muito e por algum motivo ele não foi alimentado. Teoricamente, se ele não foi alimentado, ele não cresceu nesse período, então o software faz outro cálculo e lança um reagendamento para o dia seguinte.”

Mais um obstáculo que dificulta o controle do arraçoamento é a unidade de medida usada pelos piscicultores. A quantidade de ração dada para os peixes é medida em canecadas. “O piscicultor mede e constata que no seu caneco cabe um quilo de ração. Mas a primeira canecada tem um quilo, a segunda tem 900 gramas e a última vai ter 700. E como a ração responde pela maior parte do custo de produção, fica muito difícil estimar o custo real.”

A solução da InovaPeixe para minimizar esse problema foi desenvolver um aplicativo para tablets que faz o controle mais preciso da quantidade de comida despejada nos tanques. “Conforme alimenta os peixes, o funcionário registra a quantidade de canecos que encheu e no final do trabalho marca quantos sacos de ração foram consumidos.” Se foram consumidos 10 sacos e cada um tinha 25 quilos, ele rateia esses 250 quilos entre o número de canecadas. Assim fica mais fácil calcular o custo de produção, a taxa de conversão alimentar e ele também consegue fazer uma melhor gestão dos estoques.

No caso da Agroinova, computadores e smartphones ou tablets são usados de maneira integrada. A versão app, instalada nos dispositivos móveis, armazena informações que depois precisam ser sincronizadas com um computador conectado à internet. Essa operação deve ser realizada diariamente e quando os aparelhos são sincronizados todas as tarefas correspondentes ao próximo dia são elencadas no tablet, o que faz com que, a partir daí, a internet não seja necessária.

Os passos para a aquisição do software são feitos remotamente, por meio de conversas em vídeo e outros recursos. “Temos clientes em todas as partes do país o que dificulta um contato direto.” O processo funciona assim: “o cliente fecha o negócio e nós adequamos o software à sua unidade produtiva. Entramos no sistema, cadastramos os tanques e começamos a solicitar uma série de informações, como a quantidade de ração utilizada diariamente e o número de peixes mortos.”

Assim que os dados começam a chegar com certa frequência e qualidade é iniciado o processo de treinamento. “Compartilhamos a tela com eles e vamos explicando o passo a passo. Fazemos isso até que o piscicultor aprenda a usar o software sozinho.” De acordo com Romero, chegou-se a esse modelo depois de testar um outro que foi mal sucedido. “Antes a cheap oakley sunglasses gente ensinava tudo para o cliente no início, mas percebemos que eles absorviam pouca informação. Esse novo modelo se mostrou muito mais eficiente.”

A cobrança pelo uso do sistema é de R$ 0,02 centavos por quilo de peixe vendido. “Assim, na medida em que o cliente cresce, a gente cresce também”, diz Romero. A empresa costuma prestar serviço para produtores que comercializam no mínimo 20 toneladas de peixe por mês. “Às vezes a gente fecha com clientes menores. Esse geralmente é o caso de piscicultores ávidos por tecnologia e que têm unidades produtivas bem organizadas.”

Quanto à redução dos custos com ração após o uso do sistema, Romero afirma que tudo depende do grau de controle que o piscicultor já tinha. “Quando o cenário era menos controlado, atingimos um ganho de até 30%. Mas posso dizer que varia de 20 a 30% só nessa questão de controle do insumo.”

Pecuária leiteira

Depois da consolidação do InovaPeixe, lançado em outubro de 2012, os empreendedores partiram para o ramo da pecuária leiteira e há dois meses e meio lançaram o InovaLeite. “Diferente do mercado da piscicultura, em que se controlam tanques inteiros da mesma forma, no caso do leite estamos falando da gestão do animal.”

Segundo Romero, hoje os dois maiores problemas que o setor enfrenta para garantir a boa qualidade do leite são a mastite [inflamação nas glândulas mamárias das vacas] e o comprometimento do casco dos animais. Isso sem falar no controle reprodutivo, que também tem grande relevância.

Nesse contexto, o software controla se houve baixa ou alta de produção, se tem algum animal em fase de descarte de leite, como está indo a análise de suas células somáticas e quais problemas estão inferindo na qualidade do produto.

Dadas as especificidades do programa, Romero afirma que o custo da mensalidade pelo uso do software gira em torno de R$ 450 a R$1500. O preço tem relação com o tamanho da unidade produtiva.

“Nosso objetivo é trazer o software para o dia a dia, ensinar quem está no campo a usá-lo e facilitar o diagnóstico das baixas de produção. É como se fosse um diário de bordo em que constam uma série de informações interessantes”, completa.

Mercado de insumos

Conhecendo as necessidades dos clientes, ficou fácil para a dupla investir em um terceiro produto: uma plataforma para o comércio de insumos.

“Vamos supor que um cliente do InovaLeite registrou no software que teve uma incidência alta de diarreia na propriedade ao longo do mês. Só com esse dado eu consigo apresentar para ele artigos que falam sobre esse tema, sugerir vídeos e prospectar produtos.”

O mesmo vale para a piscicultura. “Eu sei que quando o criador tem cinco toneladas de determinado produto no estoque está na hora de fazer uma nova compra. Nesse momento, então, ofereço insumos para ele, de acordo com a expectativa e necessidade.”

Até agora, a empresa trabalha com a comercialização de rações e vacinas. Está nos planos da Agroinova lançar também um software para a gestão da pecuária de corte.

Editor RuralSoft

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