Sem espaço para irregularidade

Minas está vencendo a guerra contra o uso de agrotóxicos irregulares, mas ainda há muito espaço para avançar. O percentual de amostras em que foram encontrados resíduos dessas substâncias em quantidade acima do permitido pela legislação ou proibidos nas culturas em que foram usados caiu de 45,7%, em 2001, para 14,1% em 2011, segundo balanço do Laboratório de Análise de Resíduos e Agrotóxicos (Lara), vinculado ao Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA). Apesar da queda acentuada, o índice, que é semelhante ao de outros estados brasileiros, está bem acima do resultado apurado em países da Europa e nos Estados Unidos, onde o percentual fica próximo a 2%.

É bom lembrar que alguns agrotóxicos contêm substâncias cancerígenas e, dependendo da quantidade ingerida pelo ser humano, podem causar intoxicações e até a morte. Daí ganham maior importância as atividades do Lara, único laboratório do gênero no país a fazer parte de um órgão fiscalizador do setor de agropecuária. “A análise laboratorial é muito importante para controlar o uso de agrotóxicos nos alimentos, na comercialização de produtos de qualidade para os consumidores, preservação do meio ambiente e fundamental para o IMA, no que diz respeito à fiscalização dos produtores”, destaca a farmacêutica Eliane Hooper, responsável pelas análises no Lara.

Implantado em 2001, o Lara analisava seis culturas naquela época: jiló, morango, tomate, cenoura, batata e pimentão. Atualmente, o laboratório trabalha com 14 tipos de plantações, incluindo as de chuchu, abacaxi, alface, banana, goiaba, mamão, manga e pepino. O aumento de espécies incluídas no dia a dia do Lara reforça a importância da queda de amostras com resíduos em desacordo com a lei vigente. As amostras são recolhidas por técnicos do IMA nas propriedades rurais, o que permite ao governo, em caso de constatação do uso irregular de agrotóxicos, mapear as plantações.

O agricultor que faz uso de substância permitida por lei, porém em quantidade acima do previsto pela norma, é multado. Já o produtor que recorre ao defensivo não autorizado pela legislação sofre duas penalidades: além da multa, tem a plantação destruída. É importante ressaltar que, em ambos os casos, o agricultor tem direito a ampla defesa. Na prática, o problema encontrado com maior frequência pelos profissionais do Lara são produtos não autorizados para determinadas culturas. “Por exemplo, o agricultor combate uma praga no tomate com um defensivo correto. Daí, ele usa o mesmo agrotóxico numa cultura, como o jiló. Só que a lei não permite que tal defensivo seja aplicado nessa outra cultura”, explica Eliane Hooper.

AGILIDADE Nas análises do Lara, ela conta com a ajuda de quatro funcionários – o também farmacêutico Leandro Augusto Ferreira de Sousa, a química Lucimeire Silva Cadeira Mendes, a técnica em química Ísis Roseclaire de Carvalho e a auxiliar Dilma Borges Santos Alves. “O prazo médio para sair o resultado das análises é de cinco dias. As etapas para avaliação residual acontecem da seguinte forma: fazemos a extração com solventes orgânicos na amostra e, em seguida, o extrato é evaporado e retomado com um solvente apropriado. Depois, ela segue para o sistema cromatográfico, um equipamento que, efetivamente, vai revelar a presença de resíduos no produto”, acrescentou a farmacêutica.

Especialistas avaliam que muitos produtores rurais, cuja margem de lucro está cada vez mais apertada, devido a vários fatores, como o custo elevado da mão de obra e os gastos altos para transportar a colheita em estradas precárias, recorrem a defensivos com preços baixos e até proibidos pelos ministérios da Agricultura e da Saúde.

“Com essa irregularidade, parte dos alimentos que segue para o consumo pode estar com uma carga residual fora dos limites estabelecidos para a ingestão. Na hipótese de a lei permitir o uso de um determinado agrotóxico para o tomate e o produtor usar de forma incorreta no pimentão, e isso pode acarretar a ingestão diária aceitável acima do limite permitido”, esclarece Eliane Hooper.

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