A mastite bovina é a inflamação da glândula mamária causada principalmente por microrganismos como bactérias, fungos e algas. Trata-se de uma doença complexa, de caráter multifatorial, envolvendo diversos patógenos, como bactérias, fungos e outros microrganismos, o ambiente e fatores do próprio animal.
Devido a grande importância econômica desse problema para rebanhos leiteiros, entender como essa doença manifesta nos animais e os prejuízos que pode causar são de extrema importância para que o produtor adote práticas que auxiliem no controle da mastite e na melhoria da qualidade do leite na propriedade.
– Classificação da mastite:
A manifestação evidente da doença, como leite anormal, úbere inchado e outros sinais, é conhecida por mastite clínica (foto 1).
Foto 1: manifestação evidente da mastite clínica. Na sequencia – vaca apresentando leite anormal, ou seja, grumo no teste da caneca de fundo escuro; úbere inchado; e vaca apática devido à mastite (notem o úbere inchado)
Já mastite subclínica não pode ser detectada através de observações visuais do úbere ou do leite, pois ambos apresentam uma aparência normal. Depois que as bactérias invadem a glândula mamária, esta reage recrutando células de defesa (leucócitos) para o local, com o objetivo de reverter o processo infeccioso. Essas células de defesa juntamente com as células de descamação do epitélio secretor do leite compõem as células somáticas.
O aumento da contagem de células somáticas (CCS), medida no leite, é um indicador de mastite subclínica, pois significa que houve migração de células de defesa do sangue para o leite para combater o agente da infecção. California Mastitis Test (CMT), e a Contagem eletrônica de Células Somáticas são métodos empregados para o diagnóstico da mastite subclínica (foto 2). CCS acima de 200.000céls./ml geralmente indicam que a vaca está infectada, ou seja, apresenta mastite subclínica.
Foto 2: na sequencia – coleta de amostra de leite para teste do CMT e para análise laboratorial de CCS para identificação de mastite subclínica
Os microrganismos causadores da mastite podem ser divididos em agentes ambientais e contagiosos. A mastite contagiosa é causada principalmente por Streptococcus agalactiae, Staphylococcus aureus e Corynebacterium bovis, e caracteriza-se geralmente por baixa incidência de casos clínicos e elevada incidência de casos subclínicos, com alta contagem de células somáticas (>300.000). É transmitida de quartos infectados para sadios no momento da ordenha.
A mastite ambiental é causada por bactérias presentes no ambiente, como os Coliformes e os Streptococcus ambientais. É disseminada principalmente pela exposição dos animais a ambientes altamente contaminados. Geralmente apresenta alta incidência de casos clínicos e baixa CCS (< 300.000) no tanque de leite.
– Impacto econômico da mastite:
A mastite é uma das mais frequentes infecções que acometem o gado leiteiro, levando o produtor a ter perdas econômicas. Além de alterar a quantidade, a mastite altera também a qualidade do leite produzido. É, portanto, uma doença responsável por grandes perdas econômicas tanto aos produtores quanto à indústria de laticínios.
A mastite pode diminuir a gordura e a caseína do leite, o que pode influenciar no processamento industrial do produto, e pode aumentar a concentração de sódio e cloro, o que confere um sabor salgado ao leite (tabela 1).
Componente do leite | Leite Normal (%) | Leite com Alta CCS (%) | Variação Percentual |
Gordura | 3,5 | 3,2 | 91 |
Proteína Total | 3,61 | 3,56 | 99 |
Caseína | 2,8 | 2,3 | 82 |
Sódio | 0,057 | 0,105 | 184 |
Cloro | 0,091 | 0,147 | 161 |
Cálcio | 0,12 | 0,04 | 33 |
NMC, 1996
Tabela1: influência da mastite nos componentes do leite
A mastite é um fator determinante na qualidade do leite e muito importante sob o ponto de vista econômico por aumentar os custos de produção e diminuir a produtividade. Redução na produção de leite, descarte do leite, aumento da necessidade de reposição de matrizes, decréscimo no valor de venda dos animais, custos com assistência veterinária e medicamentos e aumento da necessidade de mão-de-obra são alguns dos fatores que determinam as perdas econômicas ocasionadas pela mastite.
Muitas vezes o produtor de leite enxerga a mastite apenas pela apresentação dos casos clínicos, pois gera gastos com tratamento, descarte de leite e mais trabalho para os ordenhadores da fazenda. Por isso, é comum produtores acharem que o maior prejuízo causado pela mastite são os casos clínicos, mas isso nem sempre é verdade.
Podemos comparar a mastite clínica e subclínica a um iceberg. No iceberg o que é visível é apenas uma pequena ponta e a maior parte encontra-se submerso na água. A mastite clinica pode ser comparada a ponta do iceberg e a subclínica a todo o corpo do iceberg submerso na água (figura 1). Ou seja, o que geralmente é visto do problema da mastite pelos produtores é apenas uma pequena parte dela, a mastite clínica, e o que geralmente gera o maior prejuízo na propriedade é mais difícil de ser visualizada, a mastite subclínica. Por isso, muitas vezes os produtores relatam que não tem problema de mastite.
Figura 1: comparativo da mastite com iceberg. A pequena ponta do iceberg é o que pode ser visto e pode ser comparada a mastite clinica. A maior parte do iceberg não é visto, pois está submerso na água, e pode ser comparada a mastite subclínica.
O grande prejuízo da mastite ocorre pela perda da produção de leite, que pode ser bastante expressiva na mastite subclínica. De acordo com a tabela abaixo (tabela 2), em uma propriedade com produção diária de 1.000L de leite, recebendo R$1,00 por litro de leite produzido, se a CCS do leite do tanque de expansão estiver 1.000.000céls./ml, estima-se que a perda de produção seja de 18%, ou seja, está deixando de produzir 180 litros de leite por dia. No mês, isso resultaria em uma perda de R$5.400,00. Muitas vezes essa perda não é facilmente visualizada pelo produtor.
CCS x 1.000 (do tanque) | % Quartos Infectados | % Perda Produção | Perda Produção Mensal | Perda R$ Mensal* |
200 | 6 | 0 | 0 | R$ – |
500 | 16 | 6 | 1800 | R$ 1.800,00 |
1.000 | 32 | 18 | 5400 | R$ 5.400,00 |
1.500 | 48 | 29 | 8700 | R$ 8.700,00 |
Adaptado de NMC (1996)
Tabela 2: Prevalência estimada de infecções e perdas na produção de leite associadas à CCS elevada no tanque
O produtor pode utilizar ferramentas na propriedade para identificar a perda de produção em seu rebanho devido à mastite subclínica. Com a análise de CCS individual das vacas, os dias em lactação (DEL) e a produção de leite de cada animal, o produtor pode agrupar os animais de acordo com a faixa de DEL (0-100, 100-200, 200-300, ou >300 dias em lactação) e por faixa de CCS (<200.000céls./ml – sadias – ou >200.000céls./ml – doentes) e avaliar a média de produção dos animais que estão em cada grupo, conforme a tabela abaixo.
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Faixa de Dias em Lactação dos animais (DEL) | 0-100 | 100-200 | 200-300 | >300 | Total | ||||
CCS (céls./ml) | <200.000 Sadias | >200.000 Doentes | <200.000 Sadias | >200.000 Doentes | <200.000 Sadias | >200.000 Doentes | <200.000 Sadias | >200.000 Doentes | |
Produção de leite/dia | 27,4 | 21,6 | 23,4 | 22,5 | 22,1 | 20,3 | 18 | 14,1 | |
Número de animais | 28 | 16 | 19 | 23 | 20 | 31 | 8 | 56 | |
Perda de produção/animal(diferença da produção de leite dos animais sadios para doentes) | 5,8 | 0,9 | 3,9 | ||||||
Perda total/dia (perda de produção/animal multiplicado pelo número de animais doentes na faixa de DEL) | 5,8 x 16 = 92,8 | 0,9 x 23 = 20,7 | 1,8 x 31 = 55,8 | 3,9 x 56 = 218,4 | 387,7 |
Como pode ser visto os animais com mastite subclínica, ou seja, CCS acima de 200.000 céls./ml, produziram menos leite que os animais sadios, para uma mesma faixa de dias em lactação. Há diferença de 5,8 L a menos de produção para animais infectados, que pode ser observada na faixa de 0-100 DEL.
A perda de produção diária de leite dessa propriedade foi de 387,7 litros, o que representava aproximadamente 10% da produção de leite para essa propriedade que foi utilizada como exemplo. Isso muitas vezes não é percebido pelos produtores e geralmente o maior prejuízo da mastite é essa perda de produção. Por mês, essa propriedade tinha um prejuízo de aproximadamente 11.600 litros de leite.
Esse pode ser o lucro da atividade que está indo embora!
– Controle da mastite:
A mastite é o resultado final da interação de diferentes fatores. Por isso, não existe uma ferramenta única para prevenir e controlar a mastite. Para lidar com essa doença complexa é necessário desenvolver um programa de controle da mastite. O Programa de Seis Pontos fundamenta-se no controle dos fatores de risco para ocorrência de mastite e resulta na diminuição da ocorrência de novas infecções e do tempo de duração das mesmas.
Baseia-se nas seguintes práticas:
1. Higiene e conforto no ambiente de permanência dos animais;
2. Procedimento adequado de ordenha;
3. Limpeza e manutenção do equipamento de ordenha.
4. Tratamento imediato de casos clínicos de mastite;
5. Tratamento de vacas na secagem com antibióticos de longa ação;
6. Descarte e segregação de animais cronicamente infectados.
Os ordenhadores são a peça chave para o sucesso deste desafio que é o controle da mastite e a produção de leite com alta qualidade. Por isso, devemos refletir sobre a importância do ordenhador dentro do sistema de produção de leite, enfatizando a importância do treinamento, motivação, monitoramento e reciclagem da mão-de-obra.
Em programas de controle de mastite um foco especial deve ser direcionado aos recursos humanos, priorizando o treinamento e reciclagem periódica, identificação de fatores que solidifiquem a conscientização e despertem a motivação pela obtenção do leite nos padrões exigidos de qualidade, gerando menores prejuízos para o produtor e consequentemente toda a cadeia leiteira.
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