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Pequenos produtores enfrentam dificuldade para sobreviver em MG

Eles estão cercados pela agricultura intensiva e o desmatamento.

Sem água, os produtores não têm produção agrícola nem capim. A degradação das veredas provoca problemas para os veredeiros, pequenos agricultores que dependem delas para viver e produzir. Esses oásis também têm um papel importante no abastecimento do Rio São Francisco no norte de Minas Gerais.

A cidade de Januária, no norte de Minas, conhecida pela produção de cachaça, sente os reflexos da baixa do Rio São Francisco. Os turistas quase não aparecem nesse lugar.

O nível do São Francisco baixou tanto que formou banco de areias no meio do rio. Moradores antigos contam que nunca viram uma situação semelhante. Em um dos trechos, nenhuma embarcação consegue passar e os peixes sumiram. É possível caminhar pelo rio.

Antonio Durães é dono de uma pousada para pescadores na beira do Rio São Francisco. “Não tem ninguém. Não é fácil ver. Dá uma tristeza danada. A gente vê o rio nessa situação é difícil”.

A balsa só consegue passar por um caminho aberto no meio do banco de areia e quase sempre encalha na travessia no município de São Francisco. Segundo o biólogo Walter Neves, o nível baixo dos rios é também um reflexo da degradação de veredas. Ele aponta duas causas principais para a falta de água.

“Uma é a utilização excessiva das águas subterrâneas por meio dos poços tubulares. Outro problema grave que vem acontecendo também é a utilização das áreas de chapada, a substituição da vegetação nativa de cerrado, principalmente pelo eucalipto. Na parte alta estão os grandes produtores. Na parte baixa estão milhares de veredeiros. Ou você protege a parte alta e garante água nas partes baixas, ou você desenvolve a parte alta com plantações, gera recursos e vão acabar todas as veredas da região”, diz Neves.

A proteção dessas partes altas depende de mais cuidado com o manejo do solo, como explica o coordenador do Comitê de Bacias do Rio Urucuia, um dos principais afluentes do Rio São Francisco. “Qualquer cultura, seja cultura anual, soja, feijão, milho, cana-de-açúcar e também eucalipto são vegetais que demandam água. A ocupação do solo pela pecuária, queimadas todos os anos. Isso provoca uma degradação muito forte do solo. Evidentemente, vai se manifestar isso na diminuição da água. A água na infiltra como antigamente”, diz Julio Ayala.

Estima-se que o desmatamento já atingiu dois terços da cobertura de cerrado no norte e noroeste de Minas Gerais. Quase tudo virou carvão para siderurugia. Depois, em muitas áreas, veio a ocupação intensiva com a agropecuária. Alguns grandes produtores da região foram procurados, mas não quiseram dar entrevista. Imagens aéreas mostram o crescimento do uso de pivôs. De 2012 para 2013, as permissões para a utilização da água na irrigação aumentaram 17%.

A responsável pela liberação dos pivôs explica que as concessões são feitas dentro do que diz a lei ambiental, mas alerta para outros danos sofridos pela região. “A gente tem muitas áreas degradadas. O estado tem que olhar com um olhar cuidadoso para o volume de desmatamento, para que a gente não chegue ao que a gente tem hoje na Mata Atlântica, com algumas ilhas de mata que sobraram da Mata Atlântica”, diz Marina Sardinha, engenheira ambiental da Secretaria do Meio Ambiente de Minas Gerais.

Os pequenos produtores estão cercados pela agricultura intensiva e o desmatamento. Sem água, eles não têm produção agrícola nem capim. Um grupo de Riachinho está endividado. Eles não têm como pagar o dinheiro que pegaram no banco para comprar gado.

O produtor Geraldo Martins vê apenas a água empoçada no meio das pedras do córrego que passava na frente da casa dele. Na vereda do quintal sobrou um pouquinho de água suja. Sem nada de pasto, ele já perdeu oito cabeças de gado e cuida com carinho dos animais que restam na propriedade. Em toda a região, o gado magro se alimenta com o que tem no pasto. Alguns mal param em pé.

Há dois anos, o produtor José Pedro da Silva, da cidade de Urucuia, perdeu toda a roça que plantava na área de várzea da vereda e vive com R$ 80,00 do Bolsa Estiagem. No ano passado, ele conseguiu dinheiro no banco pra comprar algumas cabeças de gado e fazer uma renda, mas as dívidas só aumentam. Sem água na vereda, o produtor pensou em uma maneira de guardar a água da chuva. Ele construiu barreiras de contenção e abriu canaletas para a passagem da água.

Mas há exemplos de esperança no meio de tanta devastação. Com a ajuda da Emater, os produtores de Riachinho cercaram a área da vereda para evitar a entrada de animais.

O produtor Santino Araujo, que mora em uma área de vereda preservada, teve a iniciativa de começar a produzir mudas de árvores nativas. A água para irrigar o viveiro também vem da vereda. Ele colabora para um projeto da Universidade de Montes Claros que tenta salvar áreas de vereda desmatadas. As primeiras mudinhas produzidas começaram a florescer.

Só a água vai garantir o futuro das novas gerações de veredeiros. Anderson da Silva, de 9 anos, anda de bicicleta no leito de uma vereda seca e já consciência de que algo acontece na região. “Passou uns três anos e começou a secar. É ruim demais. Se a gente pudesse ficar num lugar que a água não secava nunca, era bom demais”, conclui.

 

Fonte: Globo Rural

rsuser

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