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O que impacta a longevidade das vacas nos rebanhos leiteiros?

A duração da vida produtiva de uma vaca em um rebanho afeta diretamente a rentabilidade do sistema de produção de leite. A lucratividade depende totalmente do número de meses que o animal passou produzindo leite dentro do rebanho.

A longevidade ou vida produtiva do animal representa o tempo em que a vaca permanece produtiva no rebanho. Ou seja, representa o número de meses que cada vaca passou produzindo leite até ser descartada do sistema de produção. Animais com vidas produtivas mais longas reduzem os custos de reposição e aumentam a proporção de lactações com maiores produtividades. Melhorar a longevidade do animal dentro do sistema de produção gera:

  • Menor necessidade de reposição;
  • Mais vacas maduras em produção, apresentando maior produção por vaca, pois a vaca produz mais a partir da segunda lactação;
  • Menores gastos com saúde e com problemas reprodutivos.

A vaca que conseguir permanecer com altas produções por mais tempo deixará um lucro líquido maior ao produtor do que uma vaca que permanecer menos tempo, resultando na diluição das despesas relativas à fase em que eram animais jovens na fazenda.
Desta forma, é fundamental aumentar as chances de sobrevivência das vacas dentro dos rebanhos. Uma vaca funcional – que esteja apta a cumprir as demandas atuais de produção de leite – somente vai atingir as metas desejadas se for suprida com alguns fatores fundamentais para alcançar a expressão total do seu potencial genético, tais como: ambiente, cuidados e alojamento. Muitas vacas fracassam na obtenção dos requerimentos genéticos e não genéticos e, como resultado disto, deixam seus rebanhos prematuramente. Estes animais são geneticamente inadequados e/ou vivem em um ambiente que compromete a expressão do seu potencial genético.
Os animais são descartados do rebanho por quatro motivos principais:

  • Problemas reprodutivos;
  • Problemas de cascos;
  • Mastite (figura 1)
  • Baixa produção, que geralmente é motivado por um dos fatores citados acima.

Figura 1: Vaca com mastite – quarto mamário atrofiado/perdido devido a mastite e hockey jerseys em tratamento de outro teto para mastite. Uma das principais causas de descarte precoce de vacas leiteiras do rebanho

O principal momento de descarte ocorre durante o período de transição, que compreende as três semanas anteriores e posteriores ao parto. É reconhecido como momento mais critico para a sobrevivência do animal no rebanho. Muitos dos descartes por problemas de casco, reprodutivos, produtivos e de mastite e de baixa produção estarão ligados a alguma ocorrência indesejada nessa fase. Alguns pesquisadores estimam que uma em cada quatro vacas será descartada do rebanho ou morrerá até 50 dias depois do parto por problemas ligados ao período de transição.
Isso gera uma reflexão sobre o porquê de muitos animais poucos produtivos serem mantidos no rebanho.
O custo do descarte no Brasil é muito alto! Em outros países, a venda de uma vaca de descarte pode pagar aproximadamente 65% da reposição de uma vaca na metade da lactação ou 55% da reposição de uma novilha prestes a entrar em vida produtiva. Sendo esse mercado constante e sem muitas flutuações. Por isso, utilizam dessa vantagem competitiva do modelo de produção. Descartar é barato, e é uma potente ferramenta de manutenção elevada da produtividade e sanidade do rebanho.
Para o Brasil, não! Na melhor das hipóteses, o descarte pagará 35% da reposição e, na pior, 20% da reposição. O país precisa ser no mínimo duas vezes mais eficiente em saúde dos rebanhos, pois o preço para cada vaca que sai do rebanho é muito alto. Mesmo para a realidade de quem tem um custo baixo de reposição, devem-se adotar práticas que permitam que os animais permaneçam mais tempo nos rebanhos, pois permite um excedente em produção de novilhas, que pode ser vendida gerando mais retorno para o sistema. Mas para isso, as vacas tem que ser produtivas.
Muitas vezes nos deparamos com a dúvida: É possível aliar produtividade e longevidade? É possível sim! Muitos pesquisadores afirmam que, analisando diversos rebanhos, as vacas mais produtivas são as que têm maior saúde e melhor reprodução. Esse é o motivo de produzirem mais leite. Provavelmente não tiveram problemas no parto, têm baixa contagem de células Bar somáticas, caminham bem e terão o primeiro cio fértil antes das vacas que possuem uma vida produtiva menor dentro do rebanho. Isso é coerente com o observado pelos produtores ao avaliarem as vacas do próprio rebanho.
Uma vaca longeva apresenta algumas características que auxiliam a permanência do animal no rebanho:

  • Produção de leite suficientemente lucrativa para evitar descarte voluntário por baixa produção;
  • Boa reprodução para evitar descarte por falha reprodutiva;
  • Resistência à mastite para não se tornar caso crônico;
  • Estrutura de úbere, para este não se tornar penduloso favorecendo injúrias e dificultando a ordenha (figura 2);
  • Bom comportamento;
  • Estrutura de perna, que não se deteriore com a idade ou devido a confinamento em concreto;
  • Resistência a doenças, principalmente no período de transição.

Figura 2: Vaca com úbere penduloso: diminui vida produtiva do animal no rebanho, favorece injurias e dificulta a ordenha.

Bibliografias:

– A. Sewalem, F. Miglior, G. J. Kistemaker, P. Sullivan, B. J. Van Doormaal. Relationship Between Reproduction Traits and Functional Longevity in Canadian Dairy Cattle. Journal of Dairy Science, v.91, p.1660-1668, 2006.

– Sewalem, et al.. Journal of Dairy Science v.89, p. 3609-3614. , 2006

– Renato Palma Nogueira. Nutrição com ênfase na saúde e longevidade das vacas leiteiras. NFT Alliance, 2011

– Usando a conformação para identificar funcionalidade em vacas de leite Fonte: Gordon Atkins, D.V.M., 2010

Matheus

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