Gado de Corte

O caminho das pedras na gestão das propriedades

De acordo com especialista, focar problema errado e não monitorar o desempenho da fazenda são os grandes erros dos produtores

Para não colocar a carroça na frente dos bois e acabar se atrapalhando com a gestão da fazenda, a palavra de ordem é planejamento. E o que isso quer dizer? “Que o pecuarista precisa saber onde está e onde quer chegar”, afirma José Renato Silva Gonçalves, engenheiro agrônomo e administrador da Fazenda Figueira – unidade experimental da Esalq em Londrina, PR.

De acordo com o especialista, os maiores erros cometidos hoje acontecem por falta de diagnóstico prévio à definição de um projeto ou falta de acompanhamento das etapas até o resultado. Abaixo, Gonçalves lista o que o produtor deve ter em mente para não se perder no meio do caminho (entre o diagnóstico, planejamento e resultados):

Mais fácil do que tentar ditar o preço da @ é cuidar da sua margem – Falando de diagnóstico, adianta pensar na viabilidade de um projeto só com base no preço da arroba? Segundo Gonçalves, não. “Não, porque o produtor não consegue influenciar muito nisso. Se ele for grande, pode até ser, mas para os médios não funciona assim. Eles não têm escala”. Dito isso, qual a saída? “Melhorar a margem”, ele afirma. O que nos leva ao próximo tópico:

O mercado funciona em ciclos – E a margem será apenas positiva? Também não. Gonçalves afirma que a margem negativa sempre vai existir no negócio pecuário ou em qualquer outro, porque o mercado é cíclico. “Temos ciclos de baixa e de alta, que no caso da pecuária de corte precisamos analisar num horizonte de pelo menos 20 anos. Olhando para isso você consegue ver os efeitos do clima sobre a atividade, como o preço se comporta, a produtividade, a oferta de animais”, diz. Hoje, ele lembra, “o preço da saca de soja superou os R$ 85, o que pode induzir o produtor a mudar de atividade, mas não é garantia nenhuma de que o ciclo não irá virar”. Conhecendo a volatilidade do mercado em que atua, o melhor que o produtor consegue fazer é planejar o momento de reinvestir capital.

A resposta para a intensificação pode ser simples – Com dinheiro no bolso, a dúvida seguinte, que deve ocorrer ao pecuarista, é: ‘Que fator mais limita a minha produção hoje?’ Segundo Gonçalves, chegar à resposta é consequência de um profundo conhecimento da realidade da região onde o negócio está instalado (características de solo, clima, logística, disponibilidade de mão de obra) e do desempenho da fazenda. Só assim o produtor vai conseguir direcionar seu investimento da melhor forma. “Hoje, quando se fala em intensificação muita gente pensa em integração lavoura-pecuária, IATF, adubação; mas a resposta não deve vir da tecnologia da moda”. Um exemplo simples seria: Imagine que o produtor tem pastos de 100, 150 hectares e já percebeu que os animais subaproveitam a área. Se ele adubar, resolve alguma coisa? Não. Então, nesse caso, intensificar a produção é reduzir o tamanho do pasto. “Isso mostra, de novo, como o objetivo do plano de gestão deve estar atrelado ao que vai aumentar sua margem”.

Monitoramento = meio caminho andado – Agora, vamos supor que o produtor definiu no planejamento que quer trabalhar com suplementação e precisa de um ganho de peso de 800 gramas para compensar o investimento. Se acontece algum desvio durante o processo e ele não monitora, só vai perceber o resultado no abate. “E às vezes o problema é simples. O ganho de peso está em 600 gramas e ele nota que é porque falta área de cocho para os animais comerem. Corrigindo rápido, vai atingir o resultado esperado lá na frente. Isso é gestão”, diz Gonçaves, e completa: “mensurar custos e mensurar a produção”.

A melhor tecnologia é aquela que traz melhor custo-benefício – Por último, o especialista lembra que alcançar bons resultados é algo relativo, e que até 1980 quase não desenvolvíamos tecnologia, sendo que qualquer novidade aplicada ao campo trazia grandes reflexos, produtivos e econômicos. “Isso mudou e continuamos correndo atrás de melhorar os índices zootécnicos. Acontece que subir um degrau quando você chega perto do limite biológico do animal é mais difícil”. Por isso, ele alerta, o produtor não deve esquecer a realidade do local onde está inserido e tomar cuidado para não gastar demais e ter retorno de menos.

 

Editor RuralSoft

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