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Música sertaneja tem raiz nas boiadas e nas fazendas de cana e café

Cornélio Pires foi um grande agitador cultural para divulgar o ritmo.

Ele possibilitou a gravação do primeiro disco de música caipira em 1929.

A música sertaneja, também chamada de música caipira, tem raízes fincadas nas fazendas de café, de cana e nos pastos das boiadas brasileiras. Hoje, ela se espalhou por todo o país, atraindo multidões para shows milionários de alta tecnologia.

Em um bairro rural de São José dos Campos, no Vale do Paraíba, no estado de São Paulo, o povo se reúne para um show de música caipira. No palco, estão os artistas mineiros Zé Mulato e Cassiano, na estrada há 45 anos e fiéis na parceria e no estilo de música, o sertanejo raiz.

Os dois mantêm a formação básica da música caipira: com o casal de instrumentos, viola e violão, e o canto em dueto. Reconhecidos e premiados em todo o Brasil, muitos consideram Zé Mulato e Cassiano a dupla caipira mais autêntica e mais criativa da atualidade.

“A música caipira é essencialmente do povo da roça. Devemos isso a vários heróis brasileiros que tiveram a coragem de arrebanhar tudo que ele achou importante e trouxe pro rádio e pro disco”, afirma Zé Mulato.  “O maior herói da música caipira é o Cornélio Pires, que teve a coragem de encarar e mostrar a música caipira”, conclui Cassiano.

A música caipira tem seus vultos históricos. O primeiro deles – e talvez o mais importante – nasceu em uma casinha, recentemente restaurada, na cidade de Tietê, à beira do rio de mesmo nome.

Poeta, artista, jornalista, advogado e professor, Cornélio Pires foi um grande agitador cultural para divulgar a música do homem do interior paulista de seu tempo. Assim, ele se tornou o precursor da música caipira. Criou os primeiros grupos de cantores e violeiros, mas a principal iniciativa, que teve enorme consequência e grande expansão, foi ter possibilitado a gravação do primeiro disco de música caipira em 1929.

Chegando ao disco, logo a música caipira alcançou o rádio e o circo, que foi seu grande palco. As duplas se tornaram conhecidas e Tonico e Tinoco , por exemplo, fizeram tanto sucesso que se tornaram campeões na venda de discos no Brasil, superando até mesmo Roberto Carlos, inclusive nos dias de hoje. Com o passar do tempo, porém, essa música caipira de raiz foi se transformando e confirmando o gosto popular. 

Resgate do sertanejo

Cunha, no leste do estado de São Paulo, tem visto nos últimos anos sua população diminuir devido, principalmente, à saída das pessoas da zona rural. Isso pode ter afetado a relação do povo com a viola tradicional. “Hoje em dia, com as músicas que estão aí no mercado, fica difícil para eles virem só pelo gosto do nosso som sertanejo raiz. Uma mostra disso é que no último rodeio que aconteceu em Cunha, nós tivemos um grupo que tocou no sábado, de sertanejo universitário e lotou, lotou. No domingo, tivemos uma dupla de sertanejo raiz, uma dupla autêntica, muito boa e, infelizmente, foi pouca gente”, relata a empresária Márcia Cristina Paniza.

Maria  Cristina não aceita que sua cidade se afaste tanto da música caipira e, por isso, dirige um movimento para resgatar sua memória. Uma forma de ação são as rodas de viola, onde se juntam alguns que se lembram das músicas e outros, mais jovens, que vão aprender.

“A maior dificuldade para trazer o jovem para a viola é que hoje em dia, a maioria quer dançar, beber, e a música de raiz não traz isso pra gente”, opina o violeiro Edilson dos Santos Graça, de 20 anos.

O município paulista de Itu, que teve antiga tradição caipira, hoje se vê também na necessidade de ter um curso de “caipirês”. “No início, as crianças resistiram um pouco, porque eles queriam fazer um trabalho com músicas atuais, que eles estão acostumados. Porém, nós fomos conversando, mostrando algumas músicas pra eles e eles foram se encantando e gostaram”, conta a professora Maristela Estrada Casagrande.

O especialista em viola Ivan Vilela é violeiro de toque fino e preciso, pesquisador do mundo caipira, maestro e escritor. Foi ele que criou a primeira cadeira de viola em uma universidade pública no país. Para Ivan, a viola passou por várias fases e vive hoje uma fase especial.

“A primeira fase foi uma viola muito ligada aos ritmos mais básicos da música caipira, como cururu, cateretê. Era uma viola mais de acompanhamento. A segunda fase a gente já tem o Tião Carreiro trazendo a viola para uma fase mais de solista, uma viola mais presente, mais destacada, onde não só a dupla era o foco das atenções, mas o violeiro também”, explica Ivan.

Ivan se refere a dois violeiros com muita influência no avanço do instrumento: Renato Andrade, que levou a viola para as salas de concerto, e Almir Satter, que a elevou a um nível superior: “A fase atual é de muita amplitude, é a que a gente tem a viola participando de todos os segmentos musicais”.

O bom momento da viola pode ser visto em uma loja de instrumentos musicais em São Paulo. Houve um tempo em que o violeiro fabricava a própria viola, quando não pedia para um conhecido. Hoje, nas casas especializadas há um lugar só paras violas. “A internet está ajudando bastante pra que a garotada pegue esse instrumento na mão. O preço da viola varia de R$ 500 a R$ 3 mil, mais ou menos, vai de todos os gostos”, diz Antonio Longo, funcionário da loja.

 

Por: José Hamilton Ribeiro

Fonte: Globo Rural

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