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A integridade da ponta do teto de vacas leiteiras impacta na ocorrência de mastite?

A ponta do teto é a primeira defesa do úbere contra a invasão de microrganismos causadores de mastite. Os músculos do esfíncter do teto devem se contrair e o canal do teto deve ser fortemente fechado entre as ordenhas para impedir a passagem bacteriana do meio externo para o interior da glândula mamária. Estar atento às boas condições dos tetos é essencial para evitar que o problema da mastite agrave na fazenda.

Alguns animais apresentam uma lesão na ponta do teto que muitas vezes é descrita como anel, flor, erosão, formação de calo, calosidade ou aspereza da ponta do teto. Essa lesão é chamada de hiperqueratose da ponta do teto (figura 1) e é caracterizada pelo espessamento da pele que forma o canal do teto e circunda o exterior do orifício do teto. Isso ocorre como uma resposta fisiológica às forças aplicadas à pele do teto durante a ordenha, tanto pelo fechamento da teteira de um equipamento de ordenha, por um forte ordenhador ou por um bezerro vigoroso. Esta pode ocorrer inclusive em vacas de corte pela mamada do bezerro.

Figura 1: Graus/Escore de Uncage ocorrência da hiperqueratose, sendo 1 o teto normal e 4 o mais gravemente acometido

Escore 1 – teto normal

Escore 2 – pequeno anel liso circula o orifício do teto

Escore 3 – anel de aparência enrugada circula o orifício do teto

Escore 4 – anel muito áspero, com borda enrugada e apresentando rachaduras

Se mais de 20% dos tetos das vacas do rebanho tiverem escores 3 ou 4, ou mais de 10% tiverem escore 4, recomenda-se investigar o equipamento e o manejo de ordenha mais profundamente.

Uma causa muito comum da hiperqueratose é a teteira acoplada ao teto do animal após o término de fluxo do leite, sobreordenha. Com isso, o equipamento continua exercendo pressão sobre o teto, sem que haja fluxo e retirada de leite. Essa “sobre-pressão” exercida no teto pelo equipamento, mais precisamente, pelo aumento do nível de vácuo, pode levar a ocorrência de lesões na ponta do teto, entre elas, a hiperqueratose.

A sobreordenha, também, pode acontecer no início da ordenha. O primeiro passo da preparação da vaca para a ordenha é realizar o teste da caneca de fundo escuro bem feito. Esse teste tem como uma das funções estimular a descida de leite pela vaca. Posteriormente ao teste da caneca, faz-se a desinfecção dos tetos e secagem dos mesmos após, pelo menos, 30 segundos de atuação do desinfetante. A colocação da teteira e inicio da ordenha, deve, então, ser realizada entre 60 a 90 segundos após o teste da caneca, momento este em que a vaca estará bem estimulada.

Vacas bem preparada antes da colocação do conjunto tem melhor descida de leite e com isso, menor chance de ocorrer lesões no teto. É possível sobreordenhar uma vaca no começo da sessão de ordenha se ela for mal preparada e, consequentemente, pouco estimulada, pois haverá baixo fluxo de leite e nível de vácuo elevado na ponta do teto logo no inicio da ordenha, podendo ocasionar lesões.

O canal do teto é a barreira primária à invasão do úbere por patógenos causadores de mastite. Com essas lesões, a porção externa do canal do teto pode não se fechar completamente e o teto perde sua integridade ficando mais susceptível a entrada de bactérias ou outros microrganismos para dentro do úbere. As bactérias ficam alojadas nas ranhuras e lesões no teto e os desinfetantes não conseguem atuar adequadamente nesses locais e eliminar esses microrganismos. No momento da ordenha essas bactérias podem ser transmitidas de um animal para outro e podem penetrar na glândula mamária, levando a ocorrência de mastite.

As lesões na ponta de teto podem aumentar em até 7 vezes a ocorrência de mastite no rebanho. Por isso, cuidados para manter a saúde de teto das vacas são fundamentais para conseguir controlar a mastite.

Matheus

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