Inseminação Artificial em Éguas

A inseminação artificial é a biotécnica da reprodução aplicada aos machos mais utilizada para o melhoramento genético das espécies, devido a poucos machos selecionados produzirem espermatozóides para a inseminação de centenas de fêmeas por ano. Em contraste, poucos produtos podem ser obtidos de cada fêmea por ano, mesmo com o advento de novas biotécnicas como a transferência de embriões e fertilização in vitro.

A maioria das associações de criadores permite a utilização da inseminação artificial, para aplicação de sêmen fresco e refrigerado. Entretanto, algumas destas associações não permitem a aplicação de sêmen congelado.

O uso da IA em um programa de acasalamentos permite várias vantagens em relação à monta natural. Primeiramente porque um simples ejaculado pode ser dividido em várias doses, permitindo o uso mais eficiente do sêmen do garanhão. Várias éguas podem ser inseminadas com apenas um ejaculado e também o número de éguas acasaladas com um garanhão por estação de monta pode aumentar. A adição de antibióticos nos diluentes de sêmen reduz a transmissão de várias doenças bacterianas para a égua, onde o Garanhão é o carreador. A transmissão de patógenos da égua para o garanhão também é eliminada.

A IA pode ser realizada de diferentes formas de processamento do sêmen: in natura; diluído, diluído transportado; diluído resfriado transportado e congelado. Cada um dos tipos de tecnologia de processamento tem suas vantagens, limitações e indicações.

Os extensores ou diluidores de sêmen possuem substâncias capazes de melhorar a fertilidade de reprodutores sub-férteis e manter os espermatozóides vivos por mais tempo no trato reprodutivo da égua. A inseminação também pode ser utilizada naqueles casos em que o Garanhão tem dificuldade de penetração e monta por alguma patologia. Além disso, a coleta do sêmen permite uma avaliação da qualidade do mesmo antes da inseminação e detecção de patologias e problemas de infertilidade do Garanhão.

O manejo de sistemas de inseminações de éguas consiste na rufiação ou palpação retal para a detecção do estro. As éguas devem ser inseminadas em dias alternados a partir do terceiro dia de cio ou após a detecção de um folículo ovariano maior ou igual a 35 mm até a constatação da ovulação ou final do estro. Taxas de gestações aceitáveis são obtidas quando as inseminações são feitas em intervalos de 48 a 72 horas quando se usa garanhões com sêmen de excelente qualidade. Porém, para aqueles garanhões sub-férteis as inseminações devem ser realizadas uma ou duas vezes por dia. Para inseminação com sêmen refrigerado é recomendada a inseminação em intervalos de 24 h caso não seja detectada a ovulação na égua.

Quanto à metodologia de IA a ser empregada, diversos fatores devem ser considerados, uma vez que podem ser muitas as variáveis envolvidas no processo como: localização da(s) propriedade(s); momento inseminante (pré e/ou pós-ovulação); número total de espermatozóides; volume; diluidor; temperatura do armazenamento; características individuais de qualidade do sêmen do garanhão; valor do sêmen; reposta inflamatória uterina da égua a ser inseminada; tipo de cio; momento da estação; raça, entre outros fatores.

A utilização de sêmen, fresco, diluído e resfriado implicam em maior flexibilidade de manejos de controle folicular, momento e local de deposição do sêmen. Entretanto, sêmen congelado exige um manejo mais rígido, palpações retais mais freqüentes e, quanto ao local de deposição, preferencialmente, o mais profundo no corno uterino ipsilateral à ovulação (SAMPER; ESTRADA; MCKINNON, 2007).

Hoje, com os avançados mecanismos de predição acurada da ovulação, além do uso de drogas indutoras de ovulação, diminui o número de inseminações requeridas por acasalamento, tornando mínima a utilização do garanhão. A diminuição do número de inseminações melhora a eficiência do programa de acasalamento e reduz o risco de contaminação iatrogênica do trato reprodutivo da égua.

Normalmente em um programa de IA as éguas são inseminadas com 250 a 500 milhões de espermatozóides com motilidade progressiva (viáveis). Uma dose adequada de espermatozóides requer menor número de ciclos por prenhês. Sabe-se que o momento de se realizar as inseminações com sêmen refrigerado, é mais crítico do que com sêmen fresco. Os melhores resultados com sêmen refrigerado são obtidos quando as inseminações são realizadas em um intervalo de zero a 24 horas antes da ovulação, com 500 milhões a um bilhão de espermatozóides. As taxas de concepção para os garanhões que possuem boa qualidade de sêmen após 24 horas de refrigeração é aproximadamente 10% menor do que as taxas obtidas com o sêmen fresco.

O número de espermatozóides em uma dose inseminante é mais importante que o volume propriamente dito. Pequenos volumes podem ser usados com sucesso tanto quanto 10 a 25 ml de sêmen mais diluente. Volumes menores ainda (como 0,5ml) podem ser usados quando a inseminação é feita pós-ovulação com sêmen congelado. As inseminações com sêmen fresco e refrigerado, são bastante difundidas e a maioria dos criatórios de eqüinos utiliza destas técnicas, obtendo resultados satisfatórios. Entretanto, a utilização do sêmen congelado ainda é restrita, pois além de exigir um melhor controle do momento da ovulação, os resultados são inferiores aos obtidos com sêmen fresco e refrigerado.

É recomendada a inseminação logo após a ovulação quando se deseja utilizar sêmen congelado, devido ao baixo número de espermatozóides inseminante e a queda na qualidade do sêmen. Para isso as éguas devem ser examinadas de 4 a 6 vezes por dia para que a inseminação seja feita no máximo até 6 h após a ovulação, período em que ainda não houve queda na qualidade do ovócito.

O local de deposição do sêmen no momento da inseminação artificial é um fator bastante estudado em todas as espécies, pois é de suma importância para obtenção de bons resultados de fertilidade. Algumas técnicas de inseminação ultrapassam etapas do transporte espermático pelo útero.

Todas as inseminações devem ser executadas com técnica de contaminação mínima: com a égua devidamente contida, com a cauda enfaixada e elevada e a área entre a base da cauda e comissura ventral da vulva esfregada, lavada e secada. O sêmen contido em uma seringa é depositado dentro do corpo uterino por pipeta estéril de inseminação de 22 polegadas.

O técnico deve usar luva esterilizada de plástico, protegendo até o ombro quando tiver passando a pipeta através da cérvix para o corpo uterino, onde o sêmen será depositado. Uma pequena quantidade de lubrificante não espermicida pode ser aplicada na luva. O braço do inseminador e a pipeta são passados entre os lábios vulvares para a parte cranial da vagina, onde o operador identifica e penetra a cérvix. A pipeta de inseminação é avançada através da cérvix até o corpo uterino, onde o sêmen é lentamente depositado.

Com a monta natural ou inseminação artificial, os espermatozóides tem que migrarem pelo útero até o oviduto, local onde ocorre a fertilização e devido a este fato, é importante que o sêmen apresente boa motilidade, principalmente para passarem pela cérvix e junção útero-tubárica. Em eqüinos, o transporte espermático é completo quatro horas após a inseminação. Os espermatozóides penetram na tuba uterina de porcas entre 15 e 30 minutos após a inseminação ou monta natural e após uma hora, uma quantidade de espermatozóides suficiente para fertilizar 90% dos oócitos já penetraram na tuba.

Foi demonstrado que a habilidade dos espermatozóides, provenientes de sêmen congelado, de atingirem o oviduto, particularmente a região da ampola, é menor do que de sêmen fresco e esta dificuldade no transporte espermático do sêmen congelado, pode ser devido à alterações bioquímicas e físicas na célula espermática.

Scott et al. (1995) observaram uma diferença no transporte espermático entre animais férteis e subférteis, mostrando que o transporte e sobrevivência dos espermatozóides no trato reprodutivo feminino são melhores quando se utiliza sêmen de garanhões férteis do que subférteis e quando se trabalha com éguas sem problemas reprodutivos. Ao atingirem o oviduto, os espermatozóides interagem com as células epiteliais, formando um reservatório de gametas funcionais na porção caudal do ístimo, onde os espermatozóides que se aderiram ao oviduto reduzem seu metabolismo e mantém a motilidade e capacidade fertilizante por um tempo mais prolongado.

A porcentagem de prenhez com a utilização do sêmen congelado é baixa e bastante variada, sendo que esta variação se deve: a diferentes protocolos de congelação; efeito do garanhão; diferença na fertilidade das éguas e diferentes protocolos de inseminação.

Já foi demonstrado que o sêmen congelado eqüino não tem a mesma habilidade de interagir-se com as células epiteliais do oviduto do que o sêmen fresco, mantendo assim, sua viabilidade por um menor tempo.

Papa & Dell’Aqua Júnior (2001) avaliaram o efeito do local de deposição do sêmen e a concentração da dose inseminante e obtiveram 20% de prenhez com a deposição de 50×106 espermatozóides pré ovulação no corpo do útero e nenhuma prenhez com a deposição do mesmo número de gametas na extremidade do corno. Com a deposição de 150×106 espermatozóides pré e 150×106 pós ovulação obtiveram 40% de prenhez quando o sêmen foi depositado no corpo do útero e 50% quando o sêmen foi depositado na extremidade do corno, não sendo observada diferença estatística entre os grupos com diferentes locais de deposição do sêmen.

A inseminação artificial em eqüinos é uma realidade praticada nos principais centros de reprodução e criação de cavalos do Brasil e do Mundo, tornando-se ferramenta importante para o uso adequado dos Garanhões em programas de reprodução assistida.

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