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Inflação dá uma trégua, mas ainda continua preocupando

Quanto maior a inflação, mais segmentos visam reajustes, que tendem a ocorrer quanto maior for o crescimento econômico

GERALDO BARROS
Especial para a Folha

A inflação brasileira dá sinais de trégua e as autoridades econômicas parecem respirar mais aliviadas. Embora tardiamente e de forma desajeitada, medidas corretivas do aquecimento da economia foram sendo tomadas. Ademais, os mercados de commodities deram uma pausa enquanto o quadro internacional não se torna mais claro.

Permanecem, entretanto, do lado das commodities, os fundamentos ligados à elevada liquidez e ao forte crescimento em algumas economias importantes, como a China e a Índia, e também em muitos outros países em desenvolvimento. Internamente, segue firme o processo de difusão de reajustes, no qual se conjugam duas tendências: enquanto os preços aos produtores (ou ao atacado) se movem de acordo com a inserção no comércio externo, os preços aos consumidores seguem a lógica da recomposição dos valores reais.

Nos segmentos produtivos, a formação de preços vincula-se ao posicionamento de cada um em relação ao comércio exterior.

Desde a eclosão da crise de commodities em 2007, os preços ao atacado levantados pela Fundação Getulio Vargas cresceram, em média, 34,4%.

Acima dessa média, ficaram apenas produtos agropecuários e derivados, além de minérios e carvão.

Abaixo da média, mas na casa dos dois dígitos, ficaram as indústrias de tecnologia mais simples como têxteis, madeiras e mobiliário, química, metais e maquinaria.

Com um dígito (ou índices) negativos ficaram os setores automotores, elétricos, eletrônicos, calçados e couros e equipamentos de transporte.

Será essa configuração de preços relativos politicamente sustentável? As seguidas pressões para interferência na área do câmbio e algumas sugestões, por enquanto à boca pequena, para taxação das exportações sugerem que não.

Entende-se o ocorrido ao se notar que produtos de média e alta tecnologia foram os que apresentaram o pior desempenho nas transações com o exterior, tornando-se deficitários ou agravando deficit já existentes.

Nesses casos, os preços internos ficaram atrelados aos preços de importação, estagnados ou em queda, agravados pela valorização cambial. Por aí, a pressão inflacionária é pequena. Produtos agropecuários e industriais de baixa tecnologia tiveram melhor desempenho externo, aumentando seus superavit.

Seus preços ficaram vinculados aos de exportação em marcante ascensão, se bem que atenuada pelo comportamento do câmbio.

Quanto aos preços internos ao consumidor -medidos pelo IPCA-, que subiram em média 26,7% desde 2007, a pressão veio do custo das commodities, especialmente da alimentação, com alta acumulada de 44,9%.

O agravamento da inflação se deveu, porém, em grande parte ao esforço de recuperação do poder de compra pelos demais segmentos, mormente pelos serviços, no último ano.

Há um efeito retroalimentador: quanto maior a inflação, mais segmentos buscam reajustes, que tendem a se efetivar quanto maior o crescimento econômico e melhores as condições de crédito.

Com o mesmo objetivo, descortinam-se as negociações salariais que ocorrerão no segundo semestre.
 
GERALDO BARROS é professor titular da USP/Esalq e coordenador científico do Cepea/Esalq/USP.

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