Fertilizando e multiplicando

A produtividade em áreas de plantio adubadas, com técnicas de manejo adequadas, é 300% maior do que a de terras recém-abertas no cerrado e até 40% mais elevada do que a encontrada em locais onde o cultivo é feito sem o cuidado necessário. Em outras regiões, a aplicação na medida certa de calcário e fertilizantes, químicos e orgânicos, também chega a tripilicar o volume produzido por hectare em comparação com áreas não fertilizadas. É o que mostram pesquisas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Milho e Sorgo. A transformação nos solos que são corrigidos e fertilizados é tão grande que produtores rurais que cultivam morangos e frutas no Vale do Jequitinhonha, onde o solo é arenoso e teoricamente impróprio para agricultura, já afirmam que a terra passou a ser somente “um suporte para a planta”.

Há cinco anos, a principal atividade econômica do município era o garimpo. Mas de lá para cá foram plantados 50 hectares de morango, 200 hectares de milho e 50 hectares de cebola, entre outras variedades de frutas e legumes. Graças ao pacote tecnológico de insumos que vem sendo usado na agropecuária brasileira, o desemprego em Datas acabou e o solo no qual não se plantava nada transformou-se em terra extremamente produtiva. Sem esse pacote, de acordo com a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), a área de cultivo no Brasil teria que aumentar em 88 milhões de hectares. Em 1970, a produtividade média do setor era de 1,44 tonelada por hectare. Na safra 2010/2011, considerando as 16 principais culturas do país, esse número foi multiplicado por três, subindo para 4,24 toneladas por hectare. “Até a década de 70, as terras do cerrado brasileiro eram consideradas impróprias para a agricultura. De lá para cá, a Embrapa e outras instituições de pesquisa foram desenvolvendo técnicas que permitiram corrigir a fertilidade do solo”, diz Álvaro Vilela Resende, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo.

A rotina de trabalho do produtor rural Marcos José Guedes, que já plantou morangos e atualmente tem uma cultura de abóboras de casca dura em Datas, começa pouco depois do nascer do sol, quando ele sai de casa para fazer a polinização das plantas com hormônio. “É entre as 6h e as 10h que a flor da abóbora fica aberta. Se a polinização for feita nesse horário, a produção é muito maior”, ensina o agricultor. Guedes plantou 700 covas e calcula colher entre 7 mil e 8 mil quilos da leguminosa. A produção será comercializada em Diamantina e nas escolas e supermercados de Datas. Para chegar a esse volume de produção, o agricultor teve que aprender a cuidar da terra e prepará-la para o cultivo. Para isso, fez um curso técnico em agricultura e conta com a orientação dos especialistas da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG).

EXPANSÃO O milagre da multiplicação da produtividade na agropecuária brasileira só foi alcançado por causa do crescimento do consumo de fertilizantes no país, destaca a Anda. Segundo a associação, essa expansão alcançou uma taxa média anual de 5,8% entre 1989 e 2011, o que fez com que o Brasil assumisse o posto de quarto maior mercado consumidor mundial de fertilizantes.

De janeiro a julho, as vendas do produto no Brasil alcançaram a marca de 14,3 milhões de toneladas, um aumento de 3,5% em comparação com o mesmo período de 2011. Nesse intervalo, o total de produtos à base de nitrogênio, fósforo e potássio (NPK) entregue aos agricultores brasileiros alcançou 5,864 milhões de toneladas, 2,9% maior frente aos sete primeiros meses de 2011.

Separadamente, as entregas de fertilizantes nitrogenados apresentaram evolução de 2,4%, passando de 1,5 milhão de toneladas em 2011 para 1,58 milhão de toneladas neste ano. Os fertilizantes fosfatados registraram aumento de 6%, passando de 1,9 milhão de toneladas em 2011 para 2 milhões de toneladas em 2012, e os potássicos tiveram alta de 0,5%, passando de 2,22 milhões de toneladas no ano passado para 2,23 milhões de toneladas até julho.

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