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Estiagem ameaça o cultivo de fruta irrigada no Ceará e no RN

Poços estão secando e algumas propriedades já deixaram de produzir.

Produtores estão ansiosos pelas chuvas na Chapada do Apodi.

O início da época chuvosa, na Chapada do Apodi, região que abrange Ceará e Rio Grande do Norte, começa normalmente em janeiro. Os produtores de áreas irrigadas estão muito ansiosos por essas chuvas, porque a água subterrânea, que eles retiram de poços, está secando.

O produtor de banana Luiz Estevão de Pontes, conhecido como Leomar, de 71 anos, chegou a ter cem hectares da fruta no município de Quixeré, no Ceará. Ele investiu muito. Instalou um sistema de irrigação em todo o bananal, que depois foi copiado pelos vizinhos. Leomar cavou poços rasos, de 80 metros de profundidade, e espalhou quilômetros de mangueiras para garantir a chegada da água em toda a plantação. Entretanto, a última colheita foi em 2011.

Nesta época tinha uma produção de 120 mil quilos de banana por semana. “Estava usando a água de seis poços. Quando começou a secar, continuei cavando, cavei mias doze, fez 18 poços e não fiz água”, fala o produtor.

Assim como Leomar, muitos produtores da Chapada do Apodi cavaram poços nas propriedades para trazer à tona água subterrânea. São pelo menos 30 mil hectares de terras irrigadas dessa maneira, principalmente com fruticultura.

A água usada na irrigação vem de dois aquíferos – o Açu e o Jandaíra. O solo nessa região da Chapada é constituído por uma formação calcária. Em contato com a água da chuva, a rocha vai se dissolvendo e vão se formando cavernas subterrâneas, onde a água fica armazenada. Quando o poço é furado, atinge uma dessas cavernas e uma bomba traz a água até a superfície.

Em situação normal de chuvas, a água subterrânea vinda do aquífero Jandaíra pode ser encontrada a uma profundidade de 25 metros. Contudo, por causa da seca houve um rebaixamento de outros 25 metros da profundidade. Por isso, está mais difícil achar água com poços rasos.

De acordo com o agrônomo da Universidade Federal do Semi-Árido José Francismar Medeiros, a recarga do aquífero é menor e a retirada continua igual. “Depois de três anos de seca, nós temos uma recarga do aquífero bastante limitada e como se continua retirando o mesmo volume de água. Com isso houve esse rebaixamento e dependendo do setor, os poços chegam a secar totalmente”, explica.

Não são apenas os pequenos produtores que sofrem com o rebaixamento. Uma das 17 fazendas do maior exportador de melão do Brasil tem quase 15 mil hectares plantados com a fruta. Para irrigar tudo isso, a agrícola tem 250 poços rasos e quatro poços profundos.

Aonde ainda tem água, como em uma lavoura que fica no município de Mossoró (RN) a colheita não para e as esteiras do packing house não descansam nem nos fins de semana. Mas cruzando a divisa de estado, a situação é bem diferente.

Em outra fazenda do maior produtor de melão do país a produção está totalmente perdida por causa da falta d’água nos poços. A distância entre as duas propriedades é de menos de cem quilômetros.

São mil hectares de terra seca. As mangueiras usadas na irrigação estão esquecidas. Onde antes havia fruta, hoje só restou palha. No setor de embalagem da fazenda, o acúmulo de folhas é inevitável.

O gerente de exportação da fazenda, Marcellus Júnior, explica que os negócios com a Europa, Oriente Médio e América Latina estão prejudicados. “Por semana, em média, estamos deixando de mandar tanto para exportação quanto para o mercado interno 500 mil toneladas de frutas”.

Um dos proprietários da fazenda e presidente do Comitê Executivo de Fruticultura do Rio Grande do Norte, Luiz Roberto Barcelos, avalia o impacto do rebaixamento das águas dos poços. “A gente teve que diminuir em torno de 15% já a área para essa safra. 15% a menos de área vai significar 15% a menos de fruta, 15% a menos de geração de emprego, renda e todos os benefícios que essa cultura traz”.

Pela lei,  as águas de subsolo são de responsabilidade dos governos estaduais. O estado do Rio Grande do Norte tem um instituto de gestão das águas, o IGARN, que concede autorização aos produtores para o uso dos poços. Hoje o IGARN acredita na existência de 1400 poços na Chapada do Apodi, mas monitora apenas 600. Os outros estão irregulares. Sem o cadastro de todos os poços, não há como controlar a vazão de água.

“O agricultor precisa entender que quanto mais poços ele perfura, piora a sua disponibilidade. Ele pode pensar que ta melhorando, mas ta piorando, porque um poço interfere no outro. Isso é um efeito cascata. O cone de rebaixamento de um poço provoca um rebaixamento maior no poço vizinho. Isso tem que ter um controle maior”, diz o engenheiro do IGARN Nésio Césio.

Leonardo de Moura tem uma propriedade em Baraúna, no Rio Grande do Norte. Já plantou melão, melancia, tomate, pimentão, banana e mamão. Filho de agricultor, quando furou o primeiro poço raso, sabia que aquele era um recurso finito, se não houvesse chuva para fazer a recarga. Ele diz que sempre economizou no uso e, mesmo assim, foi surpreendido com a falta total da água para a lavoura. “Desde 2011 que não planto mais nada.”

De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia, o INEMET, a média histórica de chuvas na região é de 850 milímetros, mas esse ano, até agora, choveu apenas 550.

 

Por: Priscila Brandão

Fonte: Globo Rural

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