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Entrevista: Um senador em defesa do agronegócio

O policial rodoviário federal José Medeiros (PPS) assume o mandato de senador a partir de 1º de fevereiro e adianta que terá agronegócio, educação e saúde como pautas prioritárias. Ele defende uma reforma política profunda no país e não vê a questão da suplência como uma das prioridades na discussão. Para ele, é falácia alegar que suplente não tem voto, uma vez que a campanha é feita de forma conjunta com a exibição do nome e imagem do suplente.

Com relação a temas polêmicos como aborto, descriminalização das drogas e casamento homoafetivo, Medeiros adota uma postura mais conservadora. Defende um combate eficiente ao tráfico, sendo contrário à liberação das drogas, defende a vida e é contra o aborto. Ele destaca que a relação homoafetiva é uma pauta de menor relevância no Senado, por considerar que o ser humano possui o livre-arbítrio de fazer o que quiser.

Medeiros assume a vaga no lugar de Pedro Taques (PDT), eleito governador, e terá quatro anos de mandato.

Diário – No Senado têm sido discutidos temas polêmicos como aborto, descriminalização das drogas e casamento homoafetivo. Qual opinião do senhor sobre cada um destes temas?

Medeiros – Em relação às drogas, por exemplo, tem um pensador que diz o seguinte: não há marco regulatório que pode proteger o ser humano dele mesmo. O Estado tem feito sua opção por combater o uso de entorpecente e o tráfico e se é essa a opção que o Estado fez de combater, então sou a favor de fazer isso com eficiência: cuidar mais das nossas fronteiras. Temos 900 quilômetros de fronteira seca que estão à mercê. Acho que o debate não é nem se vamos liberar – é dizer o seguinte: queremos liberar? Então libera, mas o que não podemos fazer é mal e porcamente como está sendo feito. Mato Grosso tem países vizinhos fabricantes de armas e do narcotráfico e nossa fronteira está aberta. Se me perguntar quantos policiais têm resguardando nossa fronteira hoje, respondo: não tem 20. Então a gente precisa fazer discussão ampla.

Mas você me perguntou se sou a favor ou contra. Sou a favor de que o Estado tenha que resguardar até certo ponto os seus cidadãos. Não sou a favor de que ele se intrometa tanto na vida das pessoas. Como fazer essa liberação é o que temos de pensar e se isto será bom ou não para a vida do cidadão. Para ser mais específico, não sou a favor da liberação das drogas. Quando libera teremos hospitais cheios ocupando vagas de pessoas que poderiam estar tratando da família. Não sou a favor de liberar.

Com relação ao aborto, sou conservador. Em alguns casos têm de ser pensado, como quando a mãe está em perigo; em outros, não. Quando se trata de vida, não sou favor. Já quanto ao casamento homoafetivo, é uma discussão menor e vazia. O que cada pessoa decide fazer da sua vida é muito próprio. Deus deu livre-arbítrio para as pessoas e o ser humano faz o que ele quer. Não sou a favor de o Estado se meter nestas questões.

Diário – O senhor fez carreira na PRF. Tem alguma demanda dos seus colegas para levar para o Senado?

Medeiros – Uma das principais demandas, não apenas da PRF, mas da Segurança Pública, é uma reforma urgente no setor. O senador Pedro Taques era relator da Comissão que estuda a questão da segurança. Precisamos avançar muito nesta área. Na PRF, a grande demanda não é nem salarial, é de valorização da segurança, na proteção das nossas fronteiras e melhor aparelhamento das polícias. Diferentemente do que pensavam as pessoas, de que não tem jeito, tem jeito e a Copa foi um exemplo. Os índices de criminalidade das 12 sedes da Copa caíram muito, e o que foi feito? Foi feita uma boa estrutura tecnológica, aparelhamento de estrutura de mobilidade e um amplo e maciço investimento no material humano. Quando uniu tudo isso os índices de criminalidade desceram muito.

As polícias federais têm estrutura. Dá para o gasto. Falta a questão do material humano. No estado de Mato Grosso, por exemplo, há pouco efetivo. A carreira da PF precisa ser valorizada. Existe essa demanda e já me procuraram para isso. A segurança, por eu ser oriundo dela, é uma parte onde quero atuar de maneira forte. Estamos em uma situação em que o cidadão se enclausura ou em condomínios ou em casa que parecem mais uma cela com grades e os ladrões estão nas ruas. O Congresso pode ser um importante palco para que essas discussões ocorram.

Diário – Especificamente com relação a presidente Dilma Rousseff, como foi a relação dela com a PRF no que diz respeito aos salários?

Medeiros – Na verdade, com todo o funcionalismo, não apenas com a PRF, o PT sempre teve uma forma própria e sempre manteve o que eles chamam de banca de negociação permanente. Então, não digo que houve bem uma negociação. O governo colocou um índice e disse: ou aceita ou não! Não foi uma relação das melhores e digo para o funcionalismo todo. Eles foram muito duros, mas este conflito sempre vai existir.

Diário – O senhor não considera estranho não ter recebido votos e virar senador depois de quatro anos?

Medeiros – Esta discussão é interessante e significativa do ponto de vista que o próprio fato de o suplente passar a constar no material de publicidade e ter de constar na urna. Acho uma falácia dizer que o suplente não foi votado. Já ouvi gente dizer que não votará em fulano por causa do suplente. Ele é votado, sim, colocado na chapa, e o eleitor pode ou não votar naquele candidato por causa do suplente. Eu acho uma falácia dizer que o vice não é votado. Ele não é o titular da chapa, mas por questões legais o nome dele tem de constar nos materiais com certo tamanho regulamentado. Mas existe, sim, uma discussão sobre o suplente, porque via de regra tornou-se uma anomalia do sistema de que o suplente passou a ser um comprador de mandato. Não é meu caso porque sou funcionário público e não teria condições de comprar um mandato. Mas esta situação surgiu porque notadamente você se candidata e contrata um suplente rico que não tem musculatura eleitoral e vai. Por isso se fala o suplente não tem voto, mas tem dinheiro. Eu creio que toda essa discussão possa ser terminada com a reforma política. Porque poderemos debater todos os temas e encontrar uma forma de que a pessoa não compre mandato. Não colocar nenhum vice que não tenha musculatura eleitoral. A discussão existe e é importante, mas a única forma de melhorar ou aprimorar o sistema é com a reforma política. Ela se arrasta e para mim é urgente. Acho que há diversas anomalias no processo eleitoral brasileiro que devem ser alteradas.

Diário – O que o senhor pensa sobre a possibilidade de se de acabar com o suplente?

Medeiros – Já fui mais radical nos meus posicionamentos, mas não vejo que acabar com o suplente neste momento resolva. Primeiro que suplente é mera expectativa de direito. Não usufrui de nada até que assuma o mandato. Tirar o suplente neste momento vai resolver o problema? Não! A melhoria do sistema eleitoral passa por uma reforma ampla e profunda, inclusive discutindo o sistema bicameral. Não é só do suplente que reclamam. As pessoas falam dos gastos com o Legislativo. Numa reforma política, isto terá de ser discutido. Mato Grosso é bem representado? São Paulo com 70 deputados federais está bem representado? Tem que ter mais ou menos? O Senado gastando R$ 3 bilhões anualmente, sendo o quarto maior orçamento do país em termos de capitais, é isso mesmo ou é muito? Devemos ter um Senado e uma Câmara? Ou só a Câmara?, já que o Senado é acusado de ser mera casa revisora, carimbadora. São tantos pontos que precisamos discutir que acho que centrar na figura do suplente é você discutir o acessório sem alterar o principal. Penso que dizer que vamos acabar com a figura do suplente não fede nem cheira em termos de ganho para o país diante de problemas tão graves que nós temos. Esse sistema de contratação de cabos eleitorais precisa ser discutido, assim como os gastos eleitorais. Ter um sistema mais seguro para que o cidadão escolha seu representante sem ser manipulado. Há uma frase muito emblemática do Fernando Henrique Cardoso, que disse ‘não vamos deixar que o marqueteiro escolha seu voto por você’. O que é isso? É quase uma constatação de que as pessoas que vão te representar são meros atores que interpretam um papel previamente discutido numa sala de edição. Temos de discutir se isto é bom ou ruim e tem de vir numa reforma política. Na campanha vendemos um eldorado. Temos de começar a combater o estelionato eleitoral que está num guarda-chuva legal. Todas essas coisas precisam ser mudadas e estão numa ordem de prioridade do que discutir de repente a suplência.

Diário – Quais são as principais propostas do senhor no Senado?

Medeiros – Venho de um estado como Mato Grosso, que tem sua base econômica no agronegócio, que é composto pelo pequeno e grande produtores, pecuária… Não importa de onde eu saí, ou o que fazia. Vou representar o Estado. E tenho de ter como pauta principal o meio de vida deste lugar, portanto vou ser um representante deste setor também em Brasília, porque Mato Grosso vive disso e contribui de forma muito importante para nossa balança comercial. Mas precisamos ter uma contrapartida maior do governo federal e uma mobilização dos representantes dos estados para que se unam para formar um time. (…)

Não temos como falar em desenvolvimento sem falar em educação. A saúde é pauta e não vou me furtar dela, mas é tão urgente que considero pauta número um.

O Estado tem de fazer a parte dele e o senador cobrar, mas a Educação é a base de tudo para que tenhamos uma boa saúde e uma segurança melhor, para ajudar o Estado a desenvolver. Fazemos parte dos estados emergentes. Pega um por um e infelizmente se for verificar estamos na rabeira em termos de educação. A Índia, por exemplo, é uma prestadora de serviço em larga escala para o mundo todo. Sobra mão de obra qualificada. Aqui temos uma horda de bolsão de misérias no país e boa parte de pessoas desempregadas, sendo que sobra emprego nos degraus da nossa escala produtiva. Temos de rever nosso ensino. Estas três linhas que de início tenho em mente colocar.

Diário – O Brasil é um dos campeões em acidentes rodoviários. Como policial, o que o senhor acha que podemos fazer para reduzir as tragédias nas rodovias?

Medeiros – É um caso de polícia. Temos duas travessias urbanas que começaram a ser feitas, uma em Rondonópolis e outra em Jaciara, há seis anos. O dinheiro veio e as obras não saíram. Para ir de Cuiabá a Rondonópolis era uma trajetória que você fazia com duas horas e meia e hoje se gastam até seis horas. As rodovias são um problema nacional. As obras são feitas mal e porcamente ou nem foram feitas. Precisamos evoluir na parte de infraestrutura. Poderíamos ter avançado muito em outros modais, como ferrovia. Estamos iniciando, começaram alguns modelos que precisam ser evoluídos. O que temos são várias ferrovias de pé quebrado, ou seja, não formam uma rede para que se possa ir de qualquer ponto a outro por qualquer meio. As ferrovias ligam o nada a lugar nenhum. Por que o Brasil mata mais no trânsito do que a guerra na Faixa de Gaza? Porque tem uma demanda que não dá conta e isso se espalha no trânsito urbano. Cresce o número de veículos todo ano e as vias continuam as mesmas. E não se vê esta discussão!

 

Por: ALLINE MARQUES

Fonte: Diário de Cuiabá

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