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Desde quando frango não voa?

Em entrevista exclusiva à Amanhã, Ciliomar Tortola, diretor industrial da GT Foods, conta como a beneficiadora de frango consegue sustentar um crescimento à margem da desaceleração da economia brasileira

Quando Ciliomar Tortola e seu sócio, Rogério Gonçalves, iniciaram o abate de aproximadamente mil cabeças de frangos por dia, no Paraná, talvez não imaginassem que 22 anos depois teriam incorporado empresas concorrentes e chegariam a mais de 8 mil funcionários. Ainda mais estando próximos de Perdigão e Sadia, que depois se juntariam para formar a gigante Brasil Foods.

Mas o crescimento vem se sustentando e, ao que parece, ainda não há limite visível para a expansão dos negócios do grupo. Até março, a GT Foods – que conta com as marcas Canção, Mister Frango, Gold e Bellaves e exporta 35% da sua produção, deverá abater 620 mil aves por dia. Até 2016, este total já deverá atingir 740 mil aves por dia. Além de expandir a produção, o plano da GT Foods é adicionar valor aos seus produtos, ingressando no mercado de embutidos com fábrica própria e, também, apostar na comercialização de comidas prontas. “Esse mercado de comida pronta é a bola da vez. É um grande mercado que no Brasil está começando a engatinhar”, empolga-se o diretor industrial Ciliomar Tortola. Em entrevista exclusiva ao Portal AMANHÃ, Tortola contou quais serão os próximos passos da GT Foods – e a fórmula para seguir voando alto. O que explica o crescimento da GT Foods? 

Em termos de aquisições, estamos sempre atentos para ver se uma empresa está geograficamente em um local interessante, se há mão de obra local, levamos tudo em consideração. Nós acreditamos muito em gestão de pessoas. Eu sempre digo que quem faz o resultado são pessoas, por isso precisamos prepará-las. Investimos pesado na preparação da equipe e em boas condições de trabalho. Hoje temos aproximadamente 8 mil funcionários. De 2011 pra cá nós praticamente dobramos o número de funcionários com as aquisições de outras empresas e as ampliações. Em 2016 temos previsão de chegar a 10 mil colaboradores com carteira assinada, fora os empregados indiretos, que hoje já passam de 20 mil. Esse ano, estamos terminando algumas obras para abater 740 mil aves por dia até o final de 2016. Até março de 2015 já estaremos abatendo 620 mil aves por dia. 

Qual é o principal foco de mercado atualmente? 

O foco de mercado é a exportação. Temos alguns países que estão na “bica” para habilitação… No Grupo GT Foods, como um todo, temos a marca Canção, em Maringá, que atende China, Singapura, África do Sul, México, Coréia do Sul e Canadá. Estamos habilitando a marca Mister Frango, em Paranavaí, para atender Vietnã, Arábia Saudita e Cuba. E no caso da marca Gold, de Terra Boa, , estamos prestes a conquistar habilitação para a Arábia Saudita. Então hoje temos 35% da nossa produção destinada para a exportação. E com as novas habilitações esperamos mandar para o mercado externo 45%, do que produzimos. Com essas boas notícias, esperamos fechar 2014 uma receita de R$ 1,7 bilhão. São R$ 500 milhões a mais do que conseguimos no ano passado, quando fechamos em R$ 1,2 bilhão. E, lá por 2017, queremos chegar em 2,2 bilhões. Queremos praticamente dobrar o faturamento. 

Mesmo com a crise da economia? 

Sim. O frango, veja bem, vem sendo beneficiado por conta do alto preço do boi e do suíno. Sempre foi uma proteína mais em conta e que é consumida da classe A até a D. Não tem restrições financeiras. 

Com uma boa gestão é possível ficar à margem de crises? 

Nós temos um trabalho de 22 anos com os nossos integrados. Damos a maior atenção, em todos os sentidos. Qualquer dificuldade e eles tem um canal para chegar facilmente aos diretores. Fazemos palestras, boletins dos melhores produtores… Movimentamos a avicultura há 22 anos. Por isso temos credibilidade. Nós trabalhamos juntos em todas as fases, desde manter uma galinha, um ovo, um pintinho, assistência técnica, ração. Oferecemos o que tem de melhor no mercado. Eles {produtores} fazem parte do negócio e queremos que eles ganhem bem, já que a nossa forma de pagamento é por resultado. Temos mais de mil integrados e pagamos em média R$ 0, 77 centavos por cabeça de ave, mas isso varia de R$ 0,60 até R$1,05. Outros 300 produtores estão interessados em construir estruturas para nos atender. Agora lutamos para que o BNDES libere dinheiro, porque as linhas já existem. Falta o dinheiro na linha, falta o recurso. O governo não poderia deixar faltar dinheiro para essas linhas, que seguram o produtor na origem, geram resultados para a região, evitam êxodo rural. A maioria dos nossos produtores está próxima das nossas unidades, para facilitar a logística da operação. 

Abrir capital faz parte da estratégia? 

Hoje nós somos uma S.A de capital fechado e, embora isso não esteja descartado, não passa pela nossa cabeça, ainda, abrir o capital. Deve ficar mais para a frente. Hoje temos resultados, nossos balanços são públicos. Para as ampliações não temos tido problemas com falta de recursos. Recentemente compramos uma empresa de pratos prontos de Ponta Grossa chamada Fresh Food. Produz mais de 2 mil pratos por dia. Esse mercado de comida pronta é a bola da vez. É um grande mercado que no Brasil está começando a engatinhar; Vemos outros países do mundo em que a cultura da comida pronta é forte, e consideramos que isso – comida saudável e pronta – vai acontecer também no Brasil. Fizemos também a aquisição de uma fábrica de pão de queijo e tortas para a produção de 2 mil tortas por dia para redes de supermercado. Estamos vendo que em vez de os supermercados terem confeitaria, já têm comprado o produto pronto. Por isso fomos buscar isso. 

Vocês têm outros negócios que não tem a ver com frango? 

Temos outros negócios, envolvendo posto de gasolina. , importação de pescado, batata, polenta, bovinos e suínos de marca própria, mas produzido por terceiros. Trazemos derivados de batata da Bélgica com a marca Canção. Polenta buscamos no interior de SP, mas vendemos na marca Canção também. Ainda assim, do nosso faturamento, 90% é representado por produtos de frango e os outros 10% ficam com os demais negócios, com produtos de terceiros. A marca mais forte é a Canção, que representa aproximadamente 50% do faturamento. Cerca de 30% vem pela Mister Frango, e o resto pelas marcas menores, Gold e Belaves. Mas os abatedouros menores são os que estão crescendo, e é por causa deles que no comecinho de 2017 deveremos estar abatendo 740 mil aves/dia. 

Como a GT Foods é vista pela BR Foods? Como uma pedra no sapato? 

Não. Tem espaço para todo mundo, eles tem um mix de produtos bem diferentes do nosso. Para a BRF o frango é um subproduto, eles industrializam praticamente tudo: fazem nuggets, mortadela, salsicha… E o que não é industrializado é muito destinado para a exportação. 

Esse tipo de produto industrializado não é o foco de vocês? 

Agora estamos com um projeto que conta com investimento de aproximadamente R$ 30 milhões para uma indústria que irá produzir 5 mil toneladas de industrializados por mês. Nos próximos dias devo ir para Atlanta, nos EUA, para ver maquinário e visitar algumas fábricas de embutidos. Vamos produzir também salsicha, mortadela, lingüiça, presunto… 

É o primeiro passo nesse mercado? 

É. Hoje nós produzimos salsicha com a nossa marca, mas utilizando plantas de terceiros. Agora vamos trazer {esta produção} para uma indústria nossa até 2017. Os próximos 2 ou 3 anos vão ser “pauleira”. Vamos aumentar muito o nosso mix de produtos e o nosso faturamento também. Nós já estudamos o mercado. Salsichas e outros produtos, por exemplo: nós já somos demandados na nossa central de vendas. Nossos supervisores recebem pedidos dos nossos clientes. Então, com a nossa equipe de marketing e vendas, nos demos conta de que era possível começar a produzir primeiro uma quantidade menor em terceiros para experimentar esse mercado. Agora estamos dando o passo seguinte que é construir a nossa fábrica própria, porque quando se produz em terceiro se tem que deixar uma fatia para eles. Essa fatia, apenas, praticamente já viabiliza o financiamento para a construção de uma fábrica própria. O mercado é muito dinâmico e te empurra. Quando você pensa que já deu, não para. E a gente que é empreendedor não consegue ficar parado.

 

Por: Conrado Esber

Fonte: Revista Amanhã

 

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