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Desafio para os Orgânicos: Os segredos da transição

Ao analisar a agricultura orgânica brasileira, o pesquisador da Embrapa Agrobiologia José Antônio Azevedo Espíndola diz que os desafios ainda são muitos, tanto na produção quanto na comercialização dos alimentos. Para desenvolver o modelo agrícola é preciso incentivos do governo, principalmente durante o período de conversão, ou seja, quando o agricultor passa sua produção de convencional, que usa insumos químicos, para a produção orgânica. “Não é fácil fazer a transição. Precisa ser feito um estudo da área, ver a fertilidade da terra e deixar de usar a química aos poucos, ou o produtor perde tudo que ele plantou”, explica.

Na fase de adequação, o agricultor recebe orientação e executa trabalhos para atender à legislação trabalhista, ambiental e de boas práticas de produção. O coordenador de agroecologia da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa), Eugênio Martins, explica que, se a produção é feita há mais de 10 anos com produtos químicos, é preciso fazer a retirada aos poucos. Primeiro, acaba o uso do agrotóxico, depois o do adubo químico, que é substituído pelo orgânico. “Muitos não acreditam na produção orgânica por não ter feito o processo de transição correto e ter perdido toda a colheita”, observa.

Feitas as modificações, as certificadoras fazem a auditoria de conformidade nas propriedades e emitem relatório recomendando a certificação. Na Fito, o produtor Marcos Livio Daher Campos conta que as 50 especialidades produzidas têm o certificado orgânico. Para ele, achar uma composição que fosse forte o bastante para evitar doenças e promover o crescimento das hortaliças foi difícil. Ele conta que o segredo da produção é o húmus (adubo feito com o uso de minhocas) e toda a sobra orgânica dos produtos que não são aproveitados nas lojas. Por mês, são usadas mais de 15 toneladas do adubo orgânico para manter a plantação. “Não usamos nem um tipo de produto químico. Com isso, conseguimos um produto mais bonito e saboroso”, revela.

PROCESSO CONTROLADO Marcos Daher faz um investimento de cerca de R$ 100 mil por ano para produzir os orgânicos e continuar com crescimento anual de 20% na colheita. Ele conta que o desafio é diário, já que precisa controlar todo o processo, desde a semente até a colheita e a comercialização da hortaliça. “Se a semente for ruim, não tem como concertar no meio do caminho: o produto vai ser ruim. Tudo deve ser selecionado e os insumos devem ser desenvolvidos de acordo com cada região”, revela.

Em relação à comercialização, o maior desafio está no fortalecimento ao mercado interno. Os relatórios internacionais apontam que de 70% a 90% da produção brasileira de alimentos orgânicos é destinada à exportação. Por isso, as hortaliças sem agrotóxico são muito mais caras que as convencionais no mercado. “O processo produtivo do orgânico é mais barato que o convencional, mas tudo está relacionado à lei da oferta. A demanda só aumenta e a produção ainda é pequena, por isso os preços tão altos”, afirma Eugênio Martins.

 
Na linha da expansão
 
O mercado de alimentos orgânicos cresce em torno de 20% ao ano no Brasil, segundo informações da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Apesar disso, o número de agricultores orgânicos certificados em Minas Gerais é muito baixo. Apenas 210 de um total de 1,1 milhão contam com o selo de garantia do orgânico de acordo com Eugênio Martins, da Seapa. “Levando em conta a importância da agropecuária em Minas, esse número ainda é muito pequeno. É preciso mais tempo para que eles possam se adaptar. O processo ainda é lento”, explica.

Para incentivar a produção de orgânicos, com redução de insumos químicos e, consequentemente, aumentar a oferta de produtos mais saudáveis no estado, foi assinado um protocolo de intenções de um programa de pesquisa em agroecologia e produção orgânica em Minas. A iniciativa será coordenada pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) em parceria com a Seapa, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-MG), o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) e produtores. “Já temos várias pesquisas relacionadas ao assunto. A intenção é juntar todas elas e ampliar os instrumentos que possam ajudar as famílias, fazendo com que os projetos sejam executados”, afirma a coordenadora da Divisão de Transferência Tecnológica da Epamig, Juliana Simões.

O pesquisador da Embrapa Agrobiologia José Antônio Azevedo Espíndola explica que existe uma preocupação do governo e da sociedade de fazer o mercado de produtos sem agrotóxico crescer, superando os limites do setor. “Uma política nacional de agroecologia está sendo discutida por duas comissões que são ligadas ao governo e à sociedade para criar diretrizes que buscam solucionar os problemas e as dificuldades do setor”, explica. Ainda de acordo com ele, a Embrapa também tem se motivado com pesquisas que podem ajudar na resolução de demandas que vêm da sociedade, estimulando a formação de projetos. “Nossas pesquisas vão melhorar o mercado e tornar a produção de orgânicos cada dia mais fácil, com mais qualidade, mais sabor”, acredita. (FM)

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