Categories: ArtigosGado de Leite

Cuidados que se deve ter com as bezerras recém-nascidas

Cuidados que se devem ter com as bezerras recém-nascidas

Antes da vaca parir, uma das primeiras preocupações que se deve ter é com a sua secagem. A lactação deve ser interrompida, pelo menos, 60 dias antes do parto. Isto possibilitará o descanso da glândula mamária e a produção do colostro de qualidade, além da maior produção de leite na lactação que irá se iniciar.

Deve-se ter cuidado também com a alimentação da vaca. O pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Oriel Fajardo Campos, diz que o feto ganha metade do peso nos últimos três meses de gestação. Caso a dieta apresente deficiências, a vaca gestante utilizará suas reservas corporais em benefício do feto, o que a prejudicará. A ração deve ser formulada de acordo com o tamanho e o peso do animal e sua composição pode ser encontrada nas tabelas de exigências nutricionais para gado de leite. Caso o produtor tenha dificuldade na formulação, é aconselhável que ele procure um técnico ou nutricionista.

Campos informa que, dependendo do nutriente e do seu grau de deficiência, o desenvolvimento do feto poderá ser muito afetado. Ou seja, aumentam os riscos de aborto, bezerros mortos ao nascer, defeitos físicos ou animais mais leves e com menos resistência às doenças. “Há evidências de que a falta de energia, proteína, fósforo, iodo, manganês, cobalto, selênio e das vitaminas A, D e E na dieta da gestante podem causar problemas no desenvolvimento do feto e na quantidade e qualidade do colostro a ser produzido”, relata o pesquisador.

O pesquisador recomenda que a dieta tenha o equilibro de nutrientes capaz de garantir às vacas gestantes o ganho de 600 a 800 gramas por dia durante o último terço da gestação. Ao parto, o animal deverá estar com boa condição corporal (4 – numa escala de 1 a 5). “As condições extremas: muito magra ou muito gorda, são indesejáveis”.

Maternidade e parto

Quando a vaca gestante estiver próxima do parto (cerca de dois meses antes de dar à luz ou quando tiver a lactação interrompida), ela deverá ser conduzida para um pasto ou piquete que servirá de maternidade. Esse local precisa ter boa topografia (não acidentada), permanecer limpo e possuir boa drenagem. “É necessário também que a ‘maternidade’ esteja localizada próxima ao estábulo, residência ou em local onde haja movimento de pessoas”, alerta a pesquisadora do departamento de Zootecnia da USP/Esalq, Carla Nussio. Segundo ela, isso facilitará observações mais freqüentes dos animais, favorecendo intervenções, se necessário.

A pesquisadora avisa: caso haja necessidade de intervenção no parto – o chamado parto distócico, ou “difícil” – é importante que tal trabalho seja realizado por um veterinário. A pesquisadora da Embrapa Gado de Leite, Márcia Cristina Prata, diz que partos distócicos não são incomuns e relaciona algumas situações clássicas: “Partos muito demorados, acima de 12 horas, podem caracterizar a necessidade de intervenção. Outros casos são o nascimento de gêmeos, contrações fracas e abertura insuficiente da vulva e vagina”. Porém, em casos em que o parto é normal, não deve haver intervenção.

Márcia, chama a atenção ainda para o mau posicionamento do bezerro durante o parto. “Num parto correto, primeiro devem sair as patas dianteiras, seguida da cabeça e do resto do corpo. Se isto não ocorrer, o veterinário precisará ser chamado.” Outra situação em que a presença deste profissional se torna importante é quando o produtor observa que a bezerra recém-nascida possui tetas supranumerárias (tetas extras). O veterinário é quem tem condições de decidir a respeito da retirada da teta.

Uma preocupação do produtor quando do nascimento do bezerro é a sua identificação. Deve-se utilizar brinco, colar ou tatuagem (o importante é que esta identificação não se perca). Pelo número identificado, registra-se o sexo e o peso do bezerro. Algumas fazendas também anotam se o parto foi ou não distócico. Carla diz que, assim, é possível acompanhar o desenvolvimento do animal, através de pesagens periódicas, e tomar decisões de manejo, possibilitando a correção de problemas.

O importante colostro

Carla lembra que um dos mais importantes cuidados que se deve ter com o bezerro recém-nascido é o fornecimento do colostro: “O animal precisa ingerir o colostro o mais rápido possível.” Para ela, é melhor oferecer esse alimento de forma artificial, através de uma mamadeira. Diz: “Com isso temos certeza de que o bezerro tomou a quantidade correta.”

A produção do colostro dura em torno de três a seis dias. É ele que garante a sobrevivência do bezerro logo após o nascimento, fornecendo anticorpos, vitaminas e minerais ao recém-nascido. Para o pesquisador Campos, “nas primeiras seis horas de vida, o bezerro precisa ingerir cerca de 5% do seu peso vivo em colostro”. Na maioria das vezes, é necessário forçar a ingestão do colostro. É imprescindível que o bezerro receba os 5% de seu peso vivo nas primeiras seis horas. É neste período que o metabolismo do bezerro está preparado para absorver o os anticorpos presentes no colostro. Quanto mais tempo passar após o nascimento, menos eficiente será a absorção dos anticorpos por parte do recém-nascido. É importante que o bezerro continue a ingerir o colostro, duas vezes ao dia, pelo menos até o terceiro dia de vida.”

O colostro não precisa ser fornecido, necessariamente, pela vaca que pariu o bezerro. Inclusive, pode-se ter na propriedade um “banco” de colostro. Para isso, é necessário um freezer para congelar o alimento em sacos plásticos com capacidade para um ou dois quilos. A vida útil do colostro congelado é extensa. Deve-se, no entanto, ter bastante atenção ao descongelar o produto. O descongelamento tem que ser feito em banho-maria até que o produto atinja 37ºC (ou seja, permaneça suportável na pele). Esquentá-lo demais pode significar a perda de suas propriedades.

O “banco” torna possível, até, o melhor aproveitamento da qualidade do colostro. Campos explica que a qualidade do colostro apresenta variações: “A pesquisa ainda não conseguiu explicar o porquê, mas vacas de primeira cria tendem a ter um colostro de qualidade inferior quando comparado às vacas que pariram mais vezes.” Além disso, a concentração de anticorpos no colostro diminui à medida que as ordenhas vão se sucedendo. O colostro mais rico deve ser fornecido para os bezerros mais jovens.

rsuser

Share
Published by
rsuser

Recent Posts

Startup mineira investe em fidelização no agronegócio

Seedz desenvolveu um software de fidelidade que valoriza o relacionamento entre agricultores e pecuaristas de…

4 anos ago

Vacas ganham app estilo Tinder para encontrar almas gêmeas no Reino Unido

Vacas ganham app estilo Tinder para encontrar almas gêmeas no Reino Unido A Hectare, startup…

5 anos ago

Jovem do interior de São Paulo se torna a rainha dos frangos no Brasil

A produtora rural Luciana Dalmagro, de 34 anos, em sua granja em Batatais, no interior…

5 anos ago

Fazenda Futuro traz ao mercado nova proteína com gosto de frango

A Fazenda Futuro, foodtech brasileira avaliada em 100 milhões de reais, traz ao mercado o…

5 anos ago

Ações são propostas para reduzir o desmatamento na Amazônia Legal por agronegócio e ONGs ambientais

Representantes do agronegócio, ONGs ambientais, setor financeiro, sociedade civil e academia relacionam medidas para reduzir…

5 anos ago

Setor de defensivos agrícolas anuncia metas até 2020 em prol das abelhas

Realização do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), o Colmeia Viva®…

7 anos ago