Controle leiteiro oficial em caprinos: uma ferramenta para a seleção animal

Na caprinocultura leiteira, como em qualquer outra exploração leiteira, o CL é importante para o criador conhecer a produção de leite do seu rebanho, adequar o manejo nutricional à categoria ou ao nível de produção das cabras, realizar o descarte orientado das cabras improdutivas e avaliar o potencial genético dos animais. O controle leiteiro é denominado oficial (CLO) quando realizado por instituição credenciada pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), seguindo normas oficiais. Hoje, em caprinos leiteiros, o objetivo de se realizar o CLO, dentre outros, é obter as informações necessárias para “testar e provar” quais bodes são superiores por meio de teste de progênie (isto é: estratégia de seleção). Por meio do CLO, obtém-se a mensuração da produção de leite das filhas dos reprodutores em teste e esta informação será utilizada posteriormente para avaliação dos animais.  No Brasil, o CLO em caprinos foi implantado em decorrência do Teste de Progênie de Caprinos Leiteiros que é uma estratégia de seleção do Programa de Melhoramento Genético de Caprinos Leiteiros (Capragene – http://www.cnpc.embrapa.br/pmgcl/principal.php). O Capragene é coordenado pela Embrapa Caprinos e Ovinos e pela Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos de Minas Gerais (ACCOMIG/Caprileite). Essa última representa os criadores de caprinos leiteiros e é responsável pela coordenação e execução do CLO. A maioria das ações do Capragene é financiada pela Embrapa, entretanto, o CLO tem sido realizado com financiamento do MAPA, por meio de convênio desse Ministério com a Embrapa Caprinos e Ovinos e a Caprileite/ACCOMIG na vigência de execução do teste de progênie.

Controles oficiais, em todas as espécies leiteiras, são feitos nos rebanhos de seleção, embora isso não seja uma regra. Os criadores de rebanhos para a seleção (ou núcleos) são aqueles que criam animais especializados para produção de leite e realizam intensa seleção para aumentar o ganho genético para as características de importância econômica. A seleção feita nos rebanhos núcleos deve ser direcionada para as necessidades do rebanho comercial. Assim, os criadores comerciais, que são aqueles que produzem e colocam o produto no mercado, não necessitam de controle oficial, e eles mesmos podem fazer o controle leiteiro em seu rebanho. Ressalta-se, portanto, que a realização de CLO sem a intenção de selecionar animais, ou seja, sem que os rebanhos estejam atrelados a um programa de melhoramento genético é totalmente desnecessária, uma vez que apresenta alto custo. 

Nos programas de melhoramento genético, as informações oriundas do CLO, são analisadas em um procedimento estatístico denominado avaliação genética. Nesse procedimento, estimam-se os valores genéticos (ou mérito genético) dos candidatos à seleção para todas as características de importância econômica para o sistema de produção. Para estimar o valor genético de um animal, utilizam-se as informações fenotípicas do próprio animal, os fenótipos de suas progênies, os fenótipos dos ancestrais (pais, avós, bisavós….), os fenótipos de parentes colaterais (irmãos(ãs), tios(as), primos(as) de 1º, 2º…)) e as relações de pedigree entre eles. Após essa avaliação, os animais são comparados pela sua capacidade prevista de transmissão (em inglês: PTA) que corresponde à metade do seu valor genético. Em outras palavras, a PTA, é aquilo que se espera que seja transmitido para a progênie. Desta maneira, o animal é avaliado por um conjunto de informações que são ajustadas para diversos efeitos que influenciam as características e não somente por uma informação pontual (única). 

Por isso, recomenda-se que os dados do CLO não sejam usados para fins de comparação entre raças e entre animais de diferentes rebanhos, nem tampouco para apresentar dados de classificação por ordem das cabras para produção de leite, sem que antes seja realizada uma análise estatística dos dados. Isso porque não se deve comparar as produções de animais criados em diferentes condições de meio (manejo, dieta, instalações, clima etc.), nascidos em diferentes anos, sem um adequado tratamento estatístico. Esse tipo de comparação geralmente leva a um julgamento equivocado, pois uma vez que as condições de ambiente citadas acima influenciam o desempenho dos animais (mas não é herdável), então, um animal de maior mérito genético submetido a condições menos favoráveis pode apresentar um desempenho inferior a outro animal de menor mérito genético que foi submetido a boas condições de manejo. Vejamos o exemplo prático disso a seguir. Ressalta-se que inúmeras complexidades da avaliação/comparação serão omitidas, assim, trata-se de um exemplo que não pode ser generalizado. 

Considere uma cabra A que produziu, por exemplo, 1.080 kg de leite na sua primeira lactação; outra, a cabra B, que produziu 970 kg de leite, também, em sua primeira lactação. Por esse único valor numérico, não se pode afirmar que a cabra A é “melhor” que a cabra B. Isso porque a melhor cabra (ou bode) é aquela (e) que é capaz de transmitir o seu potencial genético de produção para as suas progênies (filhas). Imaginem que foi feita a análise da produção de leite de suas filhas para compará-las. Se as filhas da cabra A produzirem em média 800 kg de leite e as filhas da cabra B produzirem, em média, 960 kg, então, pode-se dizer que a melhor cabra, nesse exemplo, baseado na produção de suas filhas, é a cabra B porque suas filhas produzem tão bem quanto ela, enquanto as filhas da cabra A são muito inferiores a sua mãe. Assim, pode ser que a maior produção de leite da primeira cabra seja resultante de um tratamento preferencial (dieta diferenciada) e não oriunda do seu potencial genético. No entanto, quando se avalia um animal não se analisa apenas uma produção e inúmeros efeitos são considerados nos cálculos, portanto, esse exemplo é apenas ilustrativo.

Diante do exposto, enfatiza-se que o CLO é o procedimento mais adequado para mensuração da produção de leite e é o instrumento que permite a avaliação do mérito genético de reprodutores caprinos (teste de progênie) e de matrizes em programas de melhoramento genético para fins de seleção e, consecutivamente, para obtenção de ganho genético para as características de produção.

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