Contagem de células somáticas do leite: definição, importância e como reduzir

A contagem de células somáticas (CCS) do leite é uma importante ferramenta que indica a saúde da glândula mamária de vacas leiteiras. As células somáticas são representadas por células de descamação do epitélio da própria glândula mamária e por células de defesa (leucócitos) que passam do sangue para o úbere. Essas células aumentam em número no leite em casos de inflamação/infecção, como na ocorrência de mastite.

Contagens até 200.000 céls./ml são considerados valores normais. Quando a CCS do leite do tanque de expansão ultrapassa esse valor é um indicativo de um possível problema de mastite no rebanho, que causa grandes prejuízos ao produtor, como redução na produção de leite das vacas afetadas (tabela 1), gastos com medicamentos e técnicos, descarte de leite por presença de antibióticos, descarte prematuro de vacas, alteração na composição do leite (diminuição da gordura, caseína e lactose no leite) e perda da bonificação no pagamento do leite pelos laticínios.

 

Tabela 1. Prevalência estimada de infecção e perdas na produção de leite associadas à alta contagem de células somáticas do tanque de expansão*.

¹Perda de produção calculada como porcentagem da produção esperada a 200.000 cél./mL.

CCSTQ = contagem de células somáticas do tanque de expansão.

*Fonte: NMC, 1996.a produção de leite associadas à alta contagem de células somáticas do tanque de expansão*.

Por isso, é de grande interesse do produtor diminuir a CCS do leite. Para isso é preciso tentar eliminar as infecções existentes, reduzir novas infecções e monitorar a mastite no rebanho.

Para eliminar as infecções existentes é necessário identificar quais são os animais com o problema. A detecção da mastite subclínica, pode ser realizada com o auxílio do California Mastitis Test (CMT) ou da CCS individual, devendo ser realizados com frequência mensal. Para detectar a mastite clinica é necessária à realização do teste da caneca de fundo escuro antes de cada ordenha. A partir dessa identificação pode-se fazer a cultura microbiológica do leite das vacas infectadas para descobrir qual o agente causador da mastite (bactérias, fungos, leveduras e algas) e então fazer o tratamento adequado desses animais ou direcionar medidas de controle especificas para cada agente.

Para reduzir novas infecções é necessário ter ações preventivas. Entre elas podemos citar:

– Higiene e conforto no ambiente de permanência dos animais: O local de permanência dos animais deve ser o mais limpo e confortável possível, reduzindo a chance do animal se infectar no intervalo entre as ordenhas.

– Adequada rotina de ordenha: são medidas importantes o uso do pré-dipping, visando reduzir, principalmente, a infecção por patógenos ambientais, além de reduzir a contagem bacteriana total (CBT) do leite; secagem dos tetos com papel toalha descartável, ordenhando tetos limpos e secos; uso do pós-dipping para eliminar os patógenos carreados pelas teteiras de uma vaca para outra e higiene das mãos do ordenhador. Outra prática que pode auxiliar na redução da CCS é fornecer alimento as vacas em lactação logo após a ordenha, evitando que as mesmas deitem e microrganismos possam adentrar a glândula mamária, já que nesse momento os esfíncteres dos tetos ainda estão abertos, facilitando a ocorrência de mastite.

 

 

– Tratamento imediato de casos clínicos: Após a detecção de mastite clínica no teste da caneca de fundo escuro, o animal deve ser tratado o mais rápido possível. Quanto mais precoce for o início do tratamento, maior a chance de cura.

– Adequadas limpeza e manutenção do equipamento de ordenha. O aumento da ocorrência de mastite pode estar associado diretamente ao mau funcionamento do equipamento de ordenha e ao desrespeito aos procedimentos básicos na limpeza do mesmo.

– Terapia de vaca seca: nesse tratamento são utilizados antibióticos de longa ação em vacas no momento da secagem, aumentando as chances de cura de infecções existentes da lactação anterior e, também, evitando novas infecções no período seco. Deve ser realizado após a última ordenha da lactação, em todos os quartos mamários.

– Descarte de animais que não respondem com sucesso aos tratamentos, e segregação dos animais cronicamente infectados, utilizando linha de ordenha. Esses são fontes de infecção e devem ficar separados, sendo ordenhados por último. Uma sugestão de linha de ordenha a ser realizada seria:

Vacas de primeira lactação sadias;

Vacas de duas lactações ou mais com CCS inferior a 200.000 céls/ml ou CMT negativo;

Animais que apresentaram alta CCS ou CMT positivo;

Vacas com grumos no leite ou em tratamento, das quais o leite deve ser descartado.

Em fazendas com problema por Staphylococcus aureus, os animais infectados por esta bactéria, devem ser ordenhados por último.

– Cuidados na compra de animais, assegurar-se que os mesmos não apresentam mastite e possam servir como carreadores da doença para o seu rebanho.

O monitoramento contínuo da mastite no rebanho é outro fator imprescindível para a manutenção da baixa CCS no leite do tanque. Através desse monitoramento objetiva-se ter um controle da ocorrência e das novas infecções da mastite clínica e subclínica no rebanho, do número de casos crônicos e perfil microbiológico dos agentes patogênicos, construindo-se, assim, uma base de dados, que ajudará na tomada de decisão sempre que novos casos de mastite aparecer e houver aumento da CCS do leite do tanque.

Realizando-se todas essas medidas é esperado sucesso na redução da contagem de células somáticas do leite e, consequentemente, na redução dos prejuízos causados pela mastite.

 

 

rsuser

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