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Como tirar proveito do período mais seco do ano para beneficiar a produção de carne bovina

Embora pareça que a cada ano que passa o clima esteja ficando doido, o fato é que em regiões tropicais sempre haverá períodos de chuvas e de seca. Obviamente que oscilações ocorrerão de ano a ano. Em um determinado ano vai chover mais do que o normal (vivenciamos algumas chuvas em pleno junho no estado de Goiás. Quem imaginaria que isso fosse acontecer?), em outros a seca vai apertar mais etc.

Parece que todo ano é anormal! Mesmo diante desse cenário, a chegada da seca pode ser considerado um fato previsível. Desde que o mundo é mundo e o Brasil é Brasil, sempre tivemos seca nas principais regiões produtoras de carne bovina. Com exceção de algumas áreas, que apresentam o inverno com chuva (sul do Mato Grosso do Sul e Norte do Mato Grosso, para citar alguns exemplos), devemos nos preparar para o momento em que a chuva corta, o frio chega e o capim seca e para de crescer!

A pesquisa brasileira já mensurou, há muito tempo, que a produção forrageira se concentra durante o período das águas, quando chega a 80-85 % da produção total anual. Ou seja, na seca o capim cresce muito, mas muito pouco! O pior é que a forrageira não só pára de crescer, como também perde qualidade nutricional.

Já é mais do que sabido também que quando a seca chega o capim perde qualidade nutricional, apresentando baixo teor de proteína e minerais e alta concentração de fibra. Iremos chamar essa fibra pelo termo mais adequado do ponto de vista nutricional: FDN. FDN significa fibra em detergente neutro e envolve nada mais nada menos do que a celulose, a hemicelulose e a lignina que são, falando de forma simples e resumida, os principais carboidratos que formam a parede celular das plantas forrageiras. São os tijolos que formam a parede, ou melhor, a estrutura das células dos capins. O problema durante a época de escassez de chuva é que, por falta de proteína, o capim seco não é digerido de forma rápida no rúmen do animal, fazendo com que o bucho fique cheio ou repleto, o que limita o consumo.

Para termos uma ideia mais concreta, um boi de 450 kg de peso, na época das águas, come em torno de 37 kg/dia de capim. Isso representa consumo de 2,3% do seu peso de um capim que tem em torno de 28% de matéria seca ou, de forma contrária, 72% de água! Já na seca, esse mesmo boi vai comer apenas 22 kg de um capim que tem 40% de matéria seca (60% de água). Ou seja, sua capacidade de ingestão cai para 2% do seu peso vivo. Isso porque o capim é de pior qualidade, rico em fibra indigestível, o que impede que ele consuma mais. Embora o boi esteja de barriga cheia, irá perder peso! Ou seja, passa fome mesmo com o rúmen lotado de capim! Mas como isso é possível? Fácil de explicar: sem proteína ou mais especificamente amônia, as bactérias celulolíticas não conseguem quebrar a FDN da forragem, ou seja, não produzem os ácidos graxos voláteis, que são oriundos da fermentação ruminal e representam a principal fonte de energia para os ruminantes. Nessa condição adversa, as bactérias crescem lentamente, já que a degradação da fibra é lenta e, consequentemente, o aporte de proteína microbiana para o animal também sofre redução. Ou seja, o animal passa a ter deficiência de energia e proteína. Claro que minerais e vitaminas também entram no bolo, uma vez que o pasto senescente têm muito menos desses nutrientes. Assim, mesmo em pleno século 21 ainda encontramos o famoso boi sanfona Brasil afora. Ou seja, um boi que ganha peso nas águas e perde peso na seca.

Considerando o cenário em que a pecuária de corte se encontra nos dias atuais, esse boi já deveria ter entrado em extinção há muito tempo! Precisamos evoluir e passar para uma realidade em que boi ganha peso na seca. O boi é tão bom negócio, que não podemos nos dar o luxo de deixarmos que ele passe mais do que duas secas em sua vida. Ele não merece isso e nosso bolso também não suportaria muito tempo um sistema de produção com mais de duas secas na vida do animal.

Portanto, oferecer suplemento devidamente formulado para fornecer os minerais, vitaminas e proteína que o animal precisa nessa fase torna-se imprescindível para que se obtenha desempenho animal compatível com pecuária de ciclo curto. Aliás, intensificar o sistema produtivo e antecipar a saída do animal da fazenda para o abate é questão de sobrevivênvia na pecuária de corte moderna. Levantamentos feitos por diversas entidades ao redor do Brasil são unânimes em afirmar e demonstrar, por a + b, que o pecuarista que mantiver os níveis médios atuais de produtividade de carne bovina (3 a 6@/ha/ ano) estará fadado a sair da atividade. Para que se tenha garantia de lucratividade, torna-se essencial investir em tecnologias que promovam aumento de produtividade, associadas à melhor rentabilidade.

Segundo dados da Agroconsult, apresentados ao final do Rally da Pecuária 2014, a rentabilidade média de sistemas de ciclo completo com índice de produtividade de 3 a 6@/ha/ano, foi de R$ 83,00/ha/ano. Já sistemas mais intensivos, produzindo em torno de 12 a 18@/ha/ano, a lucratividade saltou para R$ 276,00/ha/ano, evidenciando que a busca por tecnologia é a chave do sucesso. E o investimento em nutrição adequada, em um momento crítico na vida do bovino, como é o período seco pós desmama, tem relação custo/benefício extremamente favorável.

Existe no país um conhecimento técnico já bastante solidificado em relação à nutrição de bovinos de corte a pasto. Diversas universidades e centros de pesquisa vem realizando muitos trabalhos de investigação nessa área, no sentido de definir qual seria a melhor estratégia nutricional a ser utilizada. Entretanto, é também de conhecimento geral que os sistemas de produção de bovinos de corte no Brasil são extretamente heterogênos no que se refere a condições climáticas, raça utilizada, sistema de pastejo, tipo de gramínea, capacidade de investimento e gerencial, qualificação da mão-de-obra, condições de mercado etc, que inviabilizam qualquer generalização. Portanto, a busca da melhor estratégia passa, obrigatoriamente, por uma análise da realidade específica de cada fazenda e sistema produtivo.

Nós da Cargill Alimentos-Nutron, dispomos de uma linha completa de minerais linha branca, bem como de núcleos ou suplementos prontos para uso, que podem ser utilizados na alimentação de bovinos de corte, de todas as fases, em diferentes épocas do ano. A partir de resultados de pesquisa e aplicação prática no campo, definimos qual seria a melhor concentração de minerais, vitaminas e proteína. Afinando ainda mais a viola, definimos qual a melhor relação de proteína verdadeira:nitrogênio não protéico utilizar nos suplementos, bem como qual a proporção ótima de uréia:uréia protegida, no sentido de proporcionar a melhor resposta animal, sempre com o foco em máximo retorno econômico. Sem falar também do uso estratégico dos aditivos, para que obtenhamos ganhos adicionais dos animais mantidos em regime de pastejo.

Mas, voltanto ao assunto, um animal jovem, logo após a desmama, não merece ser jogado à própria sorte em um pasto seco, de baixo valor nutricional, sem uma correta suplementação. Por ainda estar em plena fase de crescimento, com grande potencial de deposição de massa magra (músculos), o bezerro/ garrote apresenta conversão alimentar muito favorável. Além disso, por ainda estar leve, ele dilui mais as exigências de mantença quando comparado a um animal adulto. Ou seja, quanto mais jovem é o animal menor é a necessidade de consumo para atender sua mantença. Ou seja, uma menor porção do consumo total é direcionada para atender os requisitos nutricionais de mantença, sobrando maior quantidade de nutrientes para ganho de peso.

Para que um correto programa de suplementação na época seca gere resultados satisfatórios, é imprescindível que haja oferta de pasto, de massa, mesmo que seca. Um conceito relativamente novo, desenvolvido pela equipe de professores de nutrição de ruminantes da UFV, é o de disponibilidade de matéria seca potencialmente digestível (MSpd). A MSpd equivaleria à quantidade de matéria seca do pasto que apresentaria potencial de ser digerida pelo animal, desconsinderando, portanto, toda a parte indigestível. A recomendação sugerida é de uma disponibilidade de MSPD equivalente a 4/6% do peso vivo dos animais mantidos em condição de pastejo, na época seca, devidamente suplementados. A MSpd digestível é obtida a partir da fórmula:

MSpd (% da MS) = 0.98 x (100 – FDN) + (FDN – FDNi), em que FDN e FDNi equivalem à fibra em detergente neutro e fibra em detergente neutro indigestível, respectivamente, ambos expressos em % da MS do pasto.

Os valores de FDN e FDNi são obtidos pela análise laboratorial de amostras da forragem disponível para os animais. A partir do conceito da MSpd torna-se possível averiguar as condições de disponibilidade de forragem para maximizar a extração de energia do pasto pelo animal, quando suplementado empregando conceitos de uma pecuária de corte moderna e lucrativa.

Para se ter uma idéia do impacto de um programa de suplementação bem conduzido durante a época da seca em animais após a desmama, empregamos uma das ferramentas que a equipe de campo de bovinos de corte da Cargill Alimentos tem à disposição para dar suporte ao cliente na tomada de decisão de qual melhor plano nutricional a ser empregado, para comparar dois cenários. Para faciltar o raciocínio, consideremos os seguintes dados:

– bezerro com peso inicial de 200 kg e valor de mercado de R$ 1.000,00. Em época de cria valorizada, pode até ser que em algumas regiões esse preço seja até superior, mas para exemplificar nosso caso consideremos os mil reais

– peso de abate alvo de 520 kg, o que equivaleria a 18,4@ (rendimento de carcaça de 53%)

– uso de suplemento mineral aditivado na época das águas subsequente à recria na seca

– terminação em confinamento na seca seguinte

Utilizamos preços de mercado dos suplementos utilizados nas diferentes fases. A única diferença que iremos avaliar é que no sistema tradicional o bezerro recebe sal nitrogenado de baixo consumo após a desmama (0,05 % do PV). Já no sistema mais tecnificado, utiliza-se uma mistura múltipla ou sal proteinado para médio consumo (0,3% do PV). Com isso, o desempenho durante a época da seca é diferente entre as diferentes estratégias. Para os animais que recebem apenas sal nitrogenado (sal com uréia), o ganho de peso esperado não ultrapassa as 100 g por dia. E isso em uma boa condição de pasto, quando há boa oferta de massa e os animais têm opção de selecionar a dieta. Já os animais que recebem 0,3% do PV em suplemento múltiplo (minerais, vitaminas, proteína e aditivo), o ganho de peso sobe para algo em torno de 300 g/dia.

Nas águas seguintes à época seca, vamos considerar que os animais apresentarão ganho de 800 g/dia, em um pasto bem manejado e recebendo suplementação mineral com aditivo melhorador de desempenho. Finalmente, na seca seguinte, serão todos confinados, quando receberão uma dieta que custa R$ 550,00/tonelada, para um ganho de 1,5 kg/dia e consumo de aproximadamente 2,5% do peso vivo.

Alguém pode perguntar: mas o bezerro que recebeu só sal nitrogenado na seca não pode apresentar ganho compensatório nas águas seguintes e igualar o peso dos animais que receberam o proteinado de médio consumo? Biologicamente, é bem provável que terão compensatório sim! Por isso, vamos reconsiderar os ganhos de peso nas águas e vamos colocar 700 g/dia para os bezerros do sistema tecnificado, que receberam proteinado na seca após a desmama e 800 g para os que receberam apenas sal nitrogenado. Não vamos nem entrar no mérito de que o rendimento do ganho, ou seja, a transferência de carcaça (quanto do ganho de peso vivo é efetivamente ganho de carcaça) é superior em animais em planos nutricionais que permitem ganhos contínuos ao longo de sua vida.

Pesquisas recentes feitas no Brasil têm provado isso. Ou seja, mesmo que o ganho de peso vivo possa ser inferior em animais submetidos a suplementações mais intensas, o ganho em carcaça supera o de animais que recebem o pacote da fome zero, ou seja, só mineral e no máximo um sal nitrogenado. E olhe lá!!

Consideramos também um valor de frete na compra do bezerro de R$ 15,00/cabeça; comissão de R$ 5,00/cab.; aluguel de pasto a R$ 20,00/cab.; R$ 1.800,00 de salários e encargos (1.000 animais por colaborador); 1% de mortalidade e também computamos todos os custos com o manejo sanitário, ou seja, vacinas e vermífugos. O preço de venda que adotamos foi de R$ 120,00/@.

Vamos diretamente ao que interessa então. Na estratégia tradicional, o peso dos animais ao final da recria (180 dias) seria de 218 kg contra 254 kg da estratégia que envolve suplementação com 0,3% do PV. Ou seja, 36 kg a mais! E essa diferença caiu um pouco após as águas, já que consideramos o compensatório dos bezerros que ganharam só 100 g na seca. Assim, no final das águas, os pesos seriam de 380 e 362 kg, respectivamente, para os animais do proteinado ou sal + uréia.

Antes de entrarem no confinamento, esses animais passam pela fase de transição águas-seca, quando a qualidade do pasto já começa a diminuir. Assim, para ambos os casos, vamos considerar que todos os animais receberam um proteína na base de 0,25% do peso vivo (em torno de 1 kg/cabeça/ dia) para manterem o ritmo de ganho de peso das águas (650 g/dia durante os 60 dias da transição) e já se condicinarem a comer no cocho, estar familiarizados com o movimento de máquinas e pessoas, enfim, permitindo que apresentem melhor adaptação ao início do confinamento.

Transcorridos esses 60 dias, os animais são então colocados no confinamento, onde permanecem de 68 (garrotes do proteinado na recria) ou 80 (garrotes do sal com uréia na recria) dias para atingirem o peso meta de abate de 520 kg. Está aí uma das vantagens de se intensificar a recria: obter animais mais pesados ao início do confinamento, onde, consequentemente, permanecerão menos tempo.

Para finalizar, vamos comparar o que sobra no bolso no final de todo o processo: R$ 221,89 x R$ 198,66, ou seja, diferença de R$ 23,00 para os animais que foram bem suplementados durante a primeira seca após a desmama em comparação com os que receberem apenas sal com uréia. Mesmo que o custeio tenha sido superior, em função da suplementação, cada boi abatido suplementado quando ainda era bezerro em recria vai deixar mais lucro por boi. E isso foi só alterando uma única fase da vida do animal. Se estratégias nutricionais mais avançadas tecnologicamente forem implementadas em outras fases, como nas águas e na fase de transição, essa diferença poderia ter sido ainda maior.

Para conhecer melhor das estratégias nutricionais que podem ser adotadas nos seus animais, seja a pasto ou em confinamento, procure um dos coordenadores da equipe de bovinos de corte da Cargill Alimentos para simular cenários, definir melhores produtos a ser usados na sua realidade específica de forma a maximixar o retorno do seu investimento. Estamos à disposição para ajudar a buscar a melhor solução!

 

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