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Carne ovina ainda não oferece a rentabilidade desejada pela indústria no RS

Se hoje a carne ovina é reconhecida em todo o país pelo sabor suave e maciez no corte, há alguns anos a realidade era muito diferente.

Até o fim da década de 1990, o carro-chefe da ovinocultura era a lã, o que deixava pouco espaço para o mercado de carnes. Sem padrão para consumo, o produto era visto como uma iguaria exótica, cujo sabor imprevisível e acentuado exigia estômago forte por parte dos seus apreciadores.

Com as perdas sofridas pelo setor laneiro devido à concorrência da lã vinda da Austrália e a entrada de tecidos sintéticos no mercado, essa realidade começou a mudar e os produtores voltaram os olhos para a carne, aptidão até então pouco valorizada dos ovinos.

Assim, atualmente quem trabalha com ovinocultura de corte vem investindo na qualificação do rebanho, através do melhoramento genético e da aplicação de técnicas de abate simples, mas efetivas.

Se antes os animais abatidos nas estâncias para comercialização eram na maioria adultos, agora cordeiros com oito meses ou menos são o alvo. Isto garante ao consumidor um produto de sabor suave e textura rosada, muito diferente da carne gordurosa, dura e de sabor forte resultante dos ovinos mais velhos.

Os resultados podem ser vistos em números: o consumo anual da carne de ovelha no país cresceu de 300 gramas por habitante em 2009 para 700 gramas em 2013, quando foram consumidas 88 mil toneladas do produto no Brasil.

Barreiras

Apesar do bom desempenho do setor, algumas barreiras ainda impedem sua expansão.

Dentre estas, a pequena escala produtiva observada no Estado – a média atual de ovinos por propriedade é de 79,79 – e a falta de frigoríficos especializados no abate. Poucos dedicam-se exclusivamente ou em grande escala à carne ovina. A maioria dá prioridade à bovina pela rentabilidade, mesmo que a carne ovina tenha caído no gosto do consumidor.

De acordo com a produtora de ovinos e presidente da Associação Brasileira de Criadores de Corriedale, Elisabeth Amaral Lemos, a produção gaúcha vem crescendo e o Poder Público está aplicando verbas no setor, o que incentiva o produtor a melhorar o rebanho.

Mesmo assim, ainda é preciso ampliar a fiscalização para diminuir o abate ilegal, um dos grandes gargalos do mercado de ovinos no momento. Soma-se a isso o fato de o governo não estimular o produto nacional, abrindo espaço para os importados.

Há mercado, falta produto

Por enquanto, a alta demanda não condiz com a produção e por isso é preciso importar o produto de outros países, principalmente o Uruguai, onde existem pouco mais de sete milhões de ovinos.

Mesmo com um rebanho de 17,5 milhões de cabeças – segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – em 2013 o Brasil importou sete mil toneladas de carne uruguaia para abastecer o mercado interno.

Por outro lado, mais de 95% dos abates de ovinos são realizados de forma clandestina no Brasil, o que dificulta a certificação de qualidade e desmotiva o produtor a investir na profissionalização do rebanho.

Em 2013, dados da Secretaria da Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Sul apontam o abate de aproximadamente 1,6 milhão de animais. Destes, 250 mil passaram por inspeção e 280 mil foram para consumo da propriedade.

O destino dos outros um milhão nascidos e declarados no mesmo ano é desconhecido, vítimas prováveis da comercialização ilegal. O Estado é dono do maior oviário do país, com 4.152.128 cabeças. Apesar do crescimento observado nos últimos quatro anos – em 2009 eram 3.439.103 cabeças – o total nem se compara aos 13 milhões existentes na década de 1980, mas dá esperanças de reerguimento para a cadeia produtiva gaúcha.

Para o criador Daniel Barros, consultor em ovinocultura e bovinocultura, o setor precisa definir estratégias sustentáveis que ajudem a incrementar a escala de produção sem perder a qualidade da carne. “Para que a cadeia se organize e cresça é preciso aumentar a criação.”

Segundo ele, com a média atual de animais por propriedade, é impossível garantir o número de cordeiros suficientes para viabilizar a compra por parte de um frigorífico. “Nenhuma empresa vai deslocar um transporte para pegar 15 animais.” O ideal seria que cada fazenda tivesse no mínimo de 300 a 400 animais. Isso asseguraria certo lucro ao produtor, além de manter o mercado consumidor abastecido.

Na hora do abate

Em 2014 o setor ovino passou por um período turbulento com a saída da Marfrig do mercado de abate de carne ovina. O frigorífico terminava dois mil animais por dia, mas parou de investir na área por considerar os lucros insuficientes.

Após a saída da Marfrig, várias outras pequenas e médias empresas se organizaram e começaram a dar vazão à produção, mesmo que em menor escala.

É o caso do frigorífico Famile, de Pelotas, cuja capacidade de abate é de 130 ovinos por dia. À medida que o negócio for se tornando rentável, a ideia é ampliar a planta produtiva, atualmente bastante dependente do setor bovino. “Nosso foco é a carne bovina, mas a ovina vem surgindo como uma boa opção”, afirma o diretor de produção da empresa, Milton Graeff.

O frigorífico é um dos poucos da região licenciados para a terminação de ovinos, aspecto que abre portas para o aumento da produção regional.

Na mesa do consumidor

O comerciante Paulo Bahr, 48, aprendeu com os pais a apreciar uma boa carne de ovelha. Bom gaúcho que é, costuma aproveitar as épocas de mais abundância do produto – geralmente no final de ano e alguma quantidade no inverno – para consumir o produto.

Preocupado com a qualidade, dá preferência à carne certificada, cuja procedência ele pode comprovar. Para Bahr, ovino morto a “campo aberto” – como ele chama o abate clandestino – não é confiável. “Prefiro pagar um pouco mais, mas garantir a qualidade.”

De fato, dependendo do açougue onde a carne é comprada, o quilo pode chegar a R$ 19,00. Segundo o gerente de uma casa de carnes local, Rudnei Meireles, não é difícil manter os estoques de carne ovina em dia, apesar de o produto ser um pouco mais caro do que a carne de boi, dependendo do corte.

O clima e a idade do animal na hora do abate também impactam na disponibilidade e qualidade da carne. “Quando chega uma peça muito magra ou feia, mandamos de volta. O cliente quer qualidade muito mais do que preço”, afirma Meireles, no que é apoiado por Paulo Bahr.

 

Fonte: Diário Popular

rsuser

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