Agricultor colhe a erva que nasce entre os pinheiros sem prejudicar a mata.
Erva-mate sustentável tem preço 25% maior do que outras na mesma região.
O projeto Araucária +, de Santa Catarina, busca a geração de renda sem agredir a floresta de araucárias. Pequenos agricultores colhem a erva-mate que cresce entre os pinheiros, com apoio de duas entidades privadas sem fins lucrativos.
Na fazenda de Lívia Varela Corrêa em Urupema, na serra catarinense, a erva-mate é extraída das árvores que crescem na mata nativa de araucárias, que cobre quase toda a propriedade de 46 hectares. Ela conta que nunca conseguiu um preço tão bom pelas folhas de mate. “Dez reais por 15 quilos. É um preço muito bom. O comércio gira em torno de cinco reais os 15 quilos hoje”.
A agricultora mudou o jeito de produzir depois de conhecer os pesquisadores do projeto Araucária +. “Isso aqui é uma parceria. O produtor tem o compromisso de entregar pra gente uma matéria-prima, uma erva-mate produzida de forma sustentável. O nosso compromisso é buscar no mercado empresas dispostas a pagar o melhor preço possível por essa erva-mate”, diz Daniel Caramori Alves, administrador do projeto.
Para produzir de forma sustentável e ganhar mais por isso, a agricultora Lívia teve que adotar algumas medidas. A primeira foi tirar o gado de dentro da floresta. “Primeiro que ele pisoteia o solo, compacta o solo e dificulta a germinação de sementes das espécies vegetais nativas da floresta. E segundo, claro, ele também come as mudas que já estão estabelecidas”, explica Rafael Kamke, biólogo.
A extração de erva-mate também ganhou limites. Não pode acontecer no período da floração, que vai de setembro até dezembro, e as árvores precisam ficar com, pelo menos, 30% das folhas. “Se a gente tirar todas as folhas, as chance da gente matar a erveira é muito grande”, garante o biólogo.
As árvores escolhidas como sementeiras são marcadas com uma fita amarela e ninguém toca nelas. São os bichos que vão espalhar as sementes para regenerar a mata.
A floresta de araucária é um ecossistema que pertence à Mata Atlântica e está entre os mais ameaçados do país. Hoje restam apenas 3% da floresta de araucária que cobria quase toda a região sul do Brasil. Os pesquisadores do projeto escolheram a região de Urupema, na serra catarinense, porque é lá que restou a maior reserva nativa de araucárias do país.
Júlio Cesar Santos é outro produtor de erva-mate que virou parceiro do projeto. A decisão veio após a última colheita que não foi boa. “Eu achei que seria a última, porque foi um desastre. O pessoal que veio cortar aí me destruiu o erval”.
Os produtores que participam do projeto não têm essa preocupação. É a equipe do Araucária + que consegue a mão de obra especializada. Os produtores não pagam nada por isso. Outra vantagem é a do preço: no mínimo 25% maior do que a média paga na região.
“Está indo hoje para os Estados Unidos, para uma empresa que já trabalha e que vê muito valor em produtos à base de erva-mate que vêm de uma produção sustentável. A gente já está tendo contato com empresas na África do Sul, na Alemanha, então o mercado mundial está vendo isso com muito apreço”, revela Felipe Quintão, administrador do projeto.
A meta do projeto Araucária + é atender 30 produtores durante o ano de 2015.
Fonte: Globo Rural