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Gestão gaúcha fortalece posição do porto de Estrela

Conforme o site da Companhia Docas do Maranhão (sociedade de economia mista, vinculada ao Ministério dos Transportes, e que por convênio administra a AHSUL), a entidade é responsável pela manutenção da navegação interior nos cursos d’água dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Ela concentra a atuação principalmente nos rios Jacuí, com 228 quilômetros de extensão navegável, e o Taquari, com 87 quilômetros, bem como na Lagoa Mirim. Nos rios, a AHSUL mantém e opera, diretamente, quatro barragens de navegação – três delas 

no rio Jacuí e uma no rio Taquari. 

A AHSUL ganhará em relevância quando for consolidada a chamada hidrovia Brasil-Uruguai, um projeto que prevê a ligação da Lagoa Mirim com a Lagoa dos Patos. O Estudo de Viabilidade Técnica Econômica e Ambiental (EVTEA) do empreendimento, elaborado pelo Consórcio Ecoplan-Petcon, já foi entregue à AHSUL, mas, devido à possibilidade de ser necessário algum complemento, ainda não foi tornado público. A expectativa inicial era de que o trabalho tivesse sido concluído ainda no ano passado, o que não ocorreu. 

Navegação pelo Taquari precisa ser melhorada 

Além de dotar o porto de Estrela de uma boa infraestrutura, capaz de atrair potenciais clientes e investidores, será necessário qualificar o acesso ao terminal. A partir da capital gaúcha, para alcançar o porto, as embarcações têm que navegar pelos rios Jacuí e Taquari. Quem costuma fazer esse trajeto conta que somente o primeiro trecho da hidrovia encontra-se em boas condições de operação. 

O diretor da Navegação Aliança Ático Scherer confirma que a ligação fluvial entre Porto Alegre e o município de Taquari pode ser feita sem maiores sobressaltos. No entanto, na segunda parte do trecho, de Taquari a Estrela, o empresário afirma que a situação é complicada. “Só com água cheia”, aponta. Scherer acrescenta que o calado é muito baixo e não tem a largura adequada para a navegação. 

Para o executivo, a dragagem ajudaria a resolver as dificuldades. Ele esclarece que as atuais dragagens no trecho utilizam equipamentos de pequeno porte, com rendimento menor. Para Scherer, se fosse construída uma barragem (para a regularização do nível da água) e uma eclusa (para elevar os barcos de um nível para outro) entre Taquari e Estrela, a necessidade de dragagem seria diminuída. 

Pedro Obelar, diretor de Hidrovias da SPH, reitera que a pouca movimentação de carga no porto de Estrela se deve justamente à falta de confiança nas condições de navegação, sem a manutenção da profundidade ideal, chegando a ficar com um patamar inferior a 2,5 metros, que seria o calado oficial. 

“Já que se gastou tanto dinheiro em uma eclusa, de repente se faz outra, permitindo mais cerca de 1,5 metro”, sugere, condicionando a obra a estudos “para ver se a iniciativa é viável técnica, ambiental e economicamente.” O problema de navegação, alerta Obelar, começa a partir do município de Bom Retiro do Sul, onde há muito assoreamento. “E lá não é areia, é pedra, e fazer dragagem de pedra é uma dificuldade enorme.” 

AHSUL tem planos de reformar barragens 

Para qualificar as barragens que opera no Rio Grande do Sul, a AHSUL tem em torno de R$ 60 milhões para iniciar um programa de reformas. O superintendente da AHSUL, Eloi Spohr, informa que as ações nesse sentido começarão em 2015. As atribuições da entidade, vinculada ao governo federal, aumentarão se for consolidada a hidrovia Brasil–Uruguai. A AHSUL será responsável pela administração por se tratar de um empreendimento internacional. Para esse projeto se tornar viável, serão necessários investimentos em dragagens, sinalização e novos terminais. 

Quanto às competências sobre as hidrovias, Spohr admite que a questão implicava algumas dificuldades no Estado. “Existia sempre uma grande disputa entre a AHSUL e a SPH, o que para mim é uma grande bobagem, nós somos um governo só”, frisa. Spohr, que é economista, consultor de empresas e ex-diretor administrativo-financeiro da Companhia Municipal de Saneamento (Comusa), assumiu a superintendência em abril. 

Spohr comenta que assumiu a AHSUL com vencimentos menores do que ganhava antes. “Mas o Cajar (Nardes, presidente do Partido da República, que comanda o Ministério dos Transportes) disse que eu era soldado do partido e precisávamos renovar, porque o homem que estava antes já fazia 26 anos e as hidrovias não estavam funcionando”, conta Spohr. Ele enfatiza que “sangue novo” é importante nos órgãos públicos. O próprio escritório da AHSUL, em Porto Alegre, estava “às traças”, com uma estrutura envelhecida, diz Sphor. 

O ex-superintendente José Luiz Fay de Azambuja não comenta as opiniões de Spohr, pois acredita que “não é nesse fórum que se deva discutir essas colocações”. Quanto ao repasse do porto de Estrela para o Estado, Azambuja diz ser uma decisão de governo. “Acho que essa medida, simplesmente, não vai resolver o problema, o que vai resolver o problema das nossas hidrovias é uma mudança cultural”, defende o ex-superintendente. 

Para navegantes, dificuldade aumenta no verão 

Além do rio Taquari normalmente apresentar mais dificuldades quanto ao fluxo de embarcações do que o rio Jacuí, a situação piora durante o verão. Paulo Ricardo Kulmann Leote (que exerce o papel de uma espécie de prático fluvial, o piloto que acumulou grande experiência em determinado trecho do rio) argumenta que nesse período o leito do Taquari fica mais baixo. Leote ressalta que o assoreamento é um dos obstáculos para o acesso de navios ao porto de Estrela. Segundo ele, muitas vezes é necessária a diminuição do volume de cargas para que a embarcação tenha condições de navegar até o destino das mercadorias. Ele acredita que a construção de mais uma eclusa e mais uma barragem melhorariam a situação. 

O piloto fluvial Luiz Oscar Passos da Silveira acrescenta que a realização de uma dragagem facilitaria, em curto prazo, o trânsito dos navios na região. Se não ocorrer essa intervenção humana, só a ação divina ajudaria. Silveira explica que a chuva facilita a navegação no interior gaúcho. 

O imediato João Pedro Lopes Ferreira confirma que o baixo calado torna a navegação pelo rio Taquari mais difícil. O mesmo não acontece na Lagoa dos Patos com a navegação até o porto do Rio Grande. “O problema aí é a sinalização”, afirma Ferreira.

 

Por: Jefferson Klein

Fonte: Jornal do Comércio

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