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Agricultores investem para recuperar sistemas de proteção do solo

Custo de recuperação ficou em cerca R$ 250 por hectare para o agricultor.

Problemas no solo prejudicavam o plantio na propriedade do PR. A falta de cuidado com a terra pode ter efeitos desastrosos. Arrasa lavouras, causa erosão e pode até matar rios e nascentes, provocando um prejuízo ambiental pra toda sociedade. A retirada dos sistemas de proteção das propriedades no Paraná já preocupa até o Ministério Público.

Com a retirada dos terraços há a volta de cenários que não existiam mais no Paraná. Sem barreira, a água da chuva bate em cima do morro, desce com velocidade para na beira da estrada formando voçoroca. Além disso, a água e a terra que escorrem vão parar dentro do riacho.

O município de Realeza já teve o sistema de conservação de solo instalado em praticamente toda a área. Hoje, a situação é bem diferente. O problema fica bem visível nos dias de chuva, especialmente na água dos rios. Além de terra, eles recebem os resíduos da lavoura, como adubos, esterco e agrotóxicos. “Dá para dizer que 90% dos proprietários já tiveram alguma ação de redução de retirada do sistema de terraciamento”, diz Cesar Paz, agrônomo da Emater.

Em parceria com a Sanepar, órgão do governo que cuida do saneamento e abastecimento de água do Paraná, há mais de 30 anos a Emater vem monitorando a turbidez do rio Sarandi, que abastece a cidade de Realeza. O agrônomo Sérgio Carniel, chefe do escritório regional da Emater, explica que o índice demonstra quanto resíduo sólido há na água.

“Nos anos 1983 nós tínhamos um excesso de solo indo pra dentro dos rios. Após a conservação esse índice foi diminuindo. Nós saímos de 333 para 72. Agora, percebemos de novo que esse índice está aumentando. Esse ano, deu 309 esse índice”, compara Carniel.

A terra arrastada pela a erosão pode matar nascentes e entupir a calha dos rios, causando o chamado assoreamento e diminuindo a oferta de água. Não é fácil limpar essa água.

Para o agricultor, os prejuízos vão além da perda da lavoura. A erosão arrasta a camada mais fértil do solo que fica na superfície. “É a nata, a parte boa do solo que o Paraná dispõem. Se a nação não se preocupar com essa perda, ela está indo embora. Nós não tempos como recuperar. É o patrimônio que alimenta a população, nós todos. Nós temos q manter isso”, alerta Carniel.

Hoje, a questão da conservação do solo está causando preocupação em muitas pessoas no estado do Paraná. O Ministério Público decidiu entrar nesse debate na cidade de Cambé. O promotor púbico Walter Yuiama explica que o solo é um patrimônio ambiental que pertence a toda a sociedade. “Qualquer degradação do solo agrícola pode, em última instância, ser considerado uma atividade poluidora e é papel institucional do Ministério Público a repressão de qualquer atividade poluidora ao meio ambiente”, diz.

O promotor também alerta que os técnicos têm papel fundamental nesse processo. “A partir do momento em que eles autorizam um plano de safra, assinam um plano de safra que permitem a supressão de terraços ou o aumento dos espaçamentos dos terraços fora dos padrões preconizados pelos institutos agrícolas, eles podem ser responsabilizados eventualmente, se isso originar uma erosão, um problema ambiental posterior”.

A ideia é primeiro tentar conscientizar técnicos e agricultores sobre a importância da conservação de solo. Em uma segunda etapa, punir quem desrespeitar a lei. As penas vão desde o pagamento de multas, perdas de benefícios como financiamentos até desapropriação e cadeia.

Recuperar o que foi perdido leva tempo e custa caro, mas há pessoas que estão trabalhando nesse sentido. A prefeitura de Santa Isabel do Oeste decidiu criar um programa para reconstruir o sistema de conservação de solo do município. Para isso, fez uma parceria com o governo do estado e com os agricultores na qual cada um paga parte do recurso necessário para consertar as estradas e refazer os terraços.

A prefeitura comprou novas máquinas e um terraceador, um implemento que facilita o serviço. A ideia é, através do programa, reconstruir o sistema de conservação em pelo menos 30% das 1,2 mil propriedades do município.

A propriedade do agricultor Itamar Fuschter tem 80 hactares. Há três anos ele comprou a área, mas tinha tantos problemas que não dava para plantar. O custo dessa recuperação gira em torno de R$ 250 por hectare. Os terraços passam da propriedade de Fuschter para a do vizinho, o agricultor Pedro Schmoller, que só tinha problemas com a estrada porque nunca desfez o sistema de conservação dentro da propriedade.

Outro programa luta para conservar o solo e, especialmente, a água na região de Foz do Iguaçu. Ele foi criado pela Usina de Itaipu e visa preservar a qualidade do gigantesco reservatório usado na produção de energia elétrica.

“Nós já temos hidrelétricas no Brasil comprometidas pelo assoreamento. Por isso, nós introduzimos uma prática em mais de um milhão de hectares em conjunto com agricultores, cooperativas, Embrapa e IAPAR. Nesse um milhão de hectare nós estamos recuperando toda a mata ciliar, todas as nascentes e você pode olhar a qualidade da nossa água”, diz presidente da Usina de Itaipu, Jorge Samec.

Em parceria com a Federação Brasileira de Plantio Direto, a Usina de Itaipu está monitorando propriedades na bacia dos rios que formam o lago da empresa. Mais de 200 bacias já tiveram seus sistemas de conservação de solo avaliados. Cada uma recebeu uma nota que varia de zero a 10. Os dados foram para o computador e viraram um ranking.

Uma das propriedades que está entre as primeiras colocadas do ranking fica no município de São Miguel do Iguaçu. A área tem 50 hectares e pertence ao agricultor Ilário Wendling. No lugar não tem erosão nem poça de água no meio da lavoura. Toda a chuva e solo ficam na propriedade.

Há 11 anos, quando Wendling comprou esse pedaço terra, a situação era bem diferente. “Por toda a área tinha problema. Aí, teve que fazer curva de nível e dar uma ajeitada aqui e outra ali. Hoje, a gente conseguiu chegar lá já”, comemora.

O agricultor investiu muito na qualidade do solo e em plantio direto. O agrônomo André Wendling, filho de Ilário Wendling, auxilia o pai no trabalho. “No começo, foi feito a correção dos terraços, adoção do plantio direto e a correção da fertilidade do solo. Foi isso o principal”, diz.

Além de não perder, ao caprichar na conservação o agricultor melhora o solo. A palha do plantio direto vira matéria orgânica e aumenta a fertilidade. Sem erosão a terra fica preservada para as próximas gerações. Os rios e nascentes terão vida mais longa, podendo fornecer alimento e água de qualidade para todos.

Desde 1984, o Paraná tem uma lei que regula o uso do solo e determina que as propriedades rurais tenham sistemas de conservação. Com esses problemas que vêm acontecendo nos últimos anos, em 2011 o estado criou a Adapar para fiscalizar a aplicação da lei.

 

Fonte: Globo Rural

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