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0 sinal verde para a reestruturação da agroindústria do leite no agreste Pernambucano

De 1995 até o início de 1999, o produtor de leite enfrentou o problema do câmbio valorizado, ou seja, a moeda brasileira praticamente esteve equiparada em relação ao dólar. Nesse período o Brasil se tornou o maior importador mundial de lácteos.
O impacto das alterações observadas nas relações de mercado de países com blocos, de países com países, e de blocos com blocos tem como origem, via de regra, os ditames protecionistas das políticas comerciais dos países ricos e a nova postura do consumidor, esta sobretudo por dois paradigmas: segurança alimentar e preservação ambiental. Em função disso, a base do processo de estruturação da atividade leiteira, que antes era o produtor, passou a ser o consumidor. Dessa forma, toda a cadeia produtiva foi submetida a um complexo processo de reorganização, voltando o foco de suas estratégias competitivas claramente para o mercado consumidor.
Com base nessas macrotendências e, tendo como parâmetro o comportamento passado e presente do agronegócio do leite no Brasil e, no seu contexto, o de Pernambuco, particularmente aquele conduzido no Agreste, abre-se um novo cenário.
Cerca de 74% do leite produzido em Pernambuco fica na região Agreste, o equivalente a 1,1 milhão de litros/dia. Este volume se concentra, basicamente, nos municípios de Águas Belas, Bom Conselho, Canhotinho, Correntes, Garanhuns, Gravatá, Limoeiro, Pesqueira, Sanharó, São Bento do Una, São Caetano e Venturosa. Esta mesorregião também apresentou o maior índice de produtividade animal no Estado (1.237 litros/vaca/ano), conforme dados levantados pela Embrapa Gado de Leite (Juiz de Fora-MG), em 2002.
Até o início da década de 1990, o município de Gravatá teve uma das mais importantes bacias leiteiras do Estado, mas perdeu parte da liderança com a privatização da Companhia de Industrialização de Leite de Pernambuco – CILPE.
Segundo levantamento da Câmara Setorial do Leite do Estado de Pernambuco, realizado em 2000, a pecuária leiteira no Agreste do Estado é praticada em maior expressão por produtores que não vão além de 300 litros/dia, com elevada dispersão espacial, situados em unidades geoambientais com características, grau de capacitação da mão-de-obra, culturas empresariais, genética dos rebanhos e mercado consumidor diferentes. Tal diferenciação dificulta ou mesmo impede a formulação de ações, projetos e políticas uniformes, induzindo a adoção de intervenções pontuais.
Acentuando o quadro de dificuldades que atinge com freqüência a pecuária de leite no período de safra, a crise da Parmalat provocou as maiores baixas no preço do produto, sobretudo em dezembro/2003 e janeiro/2004. Na Região Nordeste, a Parmalat centralizava suas atividades no município de Garanhuns. Por aquela unidade fabril, eram captados 300 mil litros/dia entre produtores de Pernambuco, Alagoas e Sergipe.
Os efeitos da crise mundial da Parmalat foram sentidos em todo o País, porém superado seu período mais, o preço pago aos produtores vem se recuperando desde março de 2004, alavancado pelo reaquecimento da economia e, principalmente, pela redução do déficit da balança comercial de lácteos. Em que pese tal recuperação ser um aspecto bastante positivo para o setor, observa-se que a recomposição no preço pago ao produtor está ocorrendo em ritmo lento e em proporção inferior ao aumento dos custos de produção.
Dessa observação, infere-se, portanto, que os entraves do setor transcendem a crise da Parmalat.Os bons resultados alcançados na balança comercial de lácteos combinados com a melhoria do preço após os problemas enfrentados por essa grande indústria italiana atestam que a atividade leiteira é competitiva, tem capacidade para atender à demanda interna podendo até gerar excedentes para exportação.
Um ponto de extrema importância no processo de inserção do Brasil no mercado internacional de lácteos diz respeito à qualidade da matéria-prima. Essa questão envolve uma mudança radical nas normas de plataforma (contagem bactreriana, células somáticas, teor de acidez etc.) e implantação de normas de origem (animais controlados, refrigeração do produto na propriedade, ordenha mecânica, coleta a granel).
O Programa de Melhoria da Qualidade do Leite (MAPA – Instrução Normativa nº 51, de setembro/2002), impulsionará essas exigências, determinando rigorosos critérios para a produção, identidade e qualidade do leite. Por sua vez, a nova legislação levou o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento a criar uma rede de laboratórios que serão responsáveis pelo trabalho de monitoramento em Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Paraná. O Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa) estabeleceu um prazo de seis meses para adequação dos novos parâmetros de qualidade do leite definidos na I.N. nº 51, em vigor desde o início de julho deste ano nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Nas regiões Norte e Nordeste, a IN 51 passará a vigorar a partir de julho de 2007.
Por outro lado, a implementação de políticas e programas institucionais demandados pelo setor produtivo, bem como o fortalecimento de entidades de classe são aspectos importantes para a sustentabilidade de todos os segmentos da cadeia produtiva. Além do caráter social, os programas institucionais (Cadeia do Leite, Pró-Leite Arranjos Produtivos Locais) poderiam contribuir para o fortalecimento da atividade, via estímulo ao aumento da produção, visando atender o crescimento da demanda. Esse revigoramento, particularmente em regiões mais carentes do país, significa manter o homem no campo, assegurando a geração de emprego e renda.
Apostando na possibilidade de soerguimento da atividade leiteira no Agreste pernambucano, dentro dos novos moldes preestabelecidos pela legislação e pela própria conjuntura de mercado, a Nutrir Produtos Lácteos – Natural da Vaca, após cerca de 12 anos de estudos e negociações, anuncia para breve a instalação de sua nova plataforma industrial com capacidade para processar 100 mil litros de leite/dia. O projeto, a ser implantado no município de Gravatá, prevê um investimento de R$ 10 milhões e irá contemplar aspectos como a utilização de tecnologia de ponta, o respeito ao meio ambiente, bem como o desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva.
Dessa forma, espera-se que todos os municípios integrantes da bacia leiteira da região Agreste sejam beneficiados com o empreendimento que, além da perspectiva de geração de emprego e renda, traz particularmente para Gravatá a oportunidade de resgatar a importância socioeconômica que a atividade leiteira historicamente tem para toda a região. Ratificando essa possibilidade, acaba de ser divulgado o Zoneamento da Produção de Leite na Região Nordeste, apontando a existência de cinco áreas distintas. A mesorregião geográfica Agreste Pernambucano foi demarcada como Zona 2, na qual predominam, além da pecuária leiteira, as culturas de subsistência. Esta zona, detentora de algumas vantagens relacionadas à fertilidade de solos e especialização do rebanho, destaca-se também pela sua privilegiada localização, situando-se próxima a grandes centros de consumo, a exemplo de Recife, Maceió, João Pessoa, Campina Grande etc.
O zoneamento é um trabalho que foi realizado por pesquisadores da Embrapa Gado de Leite, cujo escritório do Núcleo de Apoio à Pesquisa e Transferência de Tecnologia para o Setor Leiteiro na Região Nordeste funciona atualmente na sede da Embrapa Tabuleiros Costeiros, em Aracaju-SE.

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